Rita Couto lança livro sobre a criação do bairro e da Igreja de São Pedro
Jornalista amplia pesquisa e conta mais um capítulo da história dos imigrantes alemães em Juiz de Fora
“São Pedro – O coração da colônia alemã de Juiz de Fora”, que a jornalista e pesquisadora Rita Couto lança neste sábado (30), às 17h30, na Igreja de São Pedro, durante a 125ª edição da festa do padroeiro do bairro, é um resgate da história de um tempo que já passou, mas que não pode ser esquecido por permitir conhecer um pouco mais da alma juiz-forana a partir daqueles que ajudaram a cidade a se tornar o que é hoje.
Quanto mais jovem – ou recente – for o morador, é igualmente mais difícil olhar para o que está ao redor, principalmente nesse corrido mundo contemporâneo, e imaginar que antigamente Juiz de Fora era uma cidade bem diferente. Ou nem tão antigamente assim, pois na década de 1960 a área onde foi implantada a UFJF era considerada “longe demais” do Centro, e região de São Pedro, vista como integrante da “zona rural”. Imagine então a segunda metade do século XIX, quando a atual Cidade Alta era um imenso matagal a ser ocupado pelos colonos europeus – oriundos das atuais Alemanha e Áustria – contratados por Mariano Procópio Ferreira Lage.
Pois eles vieram, ocuparam os terrenos definidos para cada família, se estabeleceram e, aos poucos, foram construindo suas casas, cultivando suas plantações, abrindo estabelecimentos comerciais e, décadas depois, a Igreja de São Pedro, acompanhada pela festa do padroeiro que, exceção feita aos anos das duas guerras mundiais, acontece até hoje e é uma tradição da cidade.
É essa história que Rita Couto conta em seu livro, uma celebração aos 160 anos da chegada alemã à então Cidade do Parahybuna, os 135 anos da construção da Igreja de São Pedro e à Festa de São Pedro, que chega a sua 125ª edição, iniciada na sexta-feira (29), data dedicada ao santo pela Igreja Católica.
Paixão pela história
O livro é resultado de um ano de trabalho intenso por parte de Rita Couto, que vai destinar todo o valor arrecadado com a venda da publicação (R$ 35 a unidade) para a paróquia. Ela conta que, apesar de ser descendente de portugueses (“Consegui encontrar antepassados até a década de 1630, e descobri que eles se estabeleceram em Minas já por volta de 1700”), é apaixonada por história em geral e história da imigração desde a juventude, tanto que não cansava de perguntar aos seus bisavós sobre o passado da família.
Daí que se interessar pela chegada dos europeus à cidade foi questão de tempo. “Aos 12 anos, fui fazer uma tarefa para minha tia, que era coordenadora de uma comunidade católica no São Pedro e fiquei sabendo por conta disso da imigração alemã. Mais tarde, em 2005, quando cursava Comunicação na UFJF, fiquei sabendo de um curso com uma professora alemã cujo encerramento seria um texto. Conversei a respeito da colonização alemã com um dos descendentes e entrei em contato com o pesquisador Roberto Dilly, que tinha muito material a respeito. Ele viu meu interesse e fez o convite para um estágio. Foi então que iniciei minhas pesquisas”, conta.
Um dos resultados dessa dedicação foi o livro “Santana: Uma capela tirolesa na colônia alemã de Juiz de Fora”, sobre a capela construída por imigrantes do Tirol (atualmente pertencente à Áustria) em 1864. Com todo o conhecimento adquirido durante os anos de pesquisa, ela foi convidada pelo atual pároco da São Pedro, o padre Liomar Rezende de Moraes, a escrever um livro sobre a história da principal igreja do bairro, aproveitando os 135 anos do início de sua construção, além dos 160 anos da presença alemã na localidade – essencial tanto para o surgimento do bairro quanto para a construção da edificação.
Trajetórias que se fundem
Por conta disso, o livro trata da imigração alemã, ocorrida em 1858, que trouxe 1.195 colonos para a região dos atuais bairros São Pedro, Borboleta e Fábrica (especialmente na Rua Bernardo Mascarenhas), contratados para trabalharem na Companhia União e Indústria, de Mariano Procópio, na então chamada Colônia Alemã Dom Pedro II; da formação do núcleo habitacional com as primeiras residências, sendo algumas delas casebres de madeira em meio à mata; do início e conclusão da construção da igreja, entre 1883 (ano da autorização por parte do bispo de Mariana) e 1885 (sendo abençoada em janeiro do ano seguinte), em terreno doado por Sebastião Kunz (fundador da Cervejaria Barbante), que também recebeu um cemitério; da Festa de São Pedro, iniciada em 1884; do desenvolvimento do bairro; e chega até o final do milênio, com a criação da Paróquia de São Pedro em 1996, e os dias atuais.
Viagem à Europa e entrevistas
Para contar toda essa história, Rita Couto pesquisou documentos antigos, incluindo uma viagem à Áustria e à Alemanha em que encontrou cartas dos colonos para seus parentes, recomendando que viessem para o Brasil; fotografias que remontam ao século XIX, além de outras mais recentes e/ou atuais; jornais antigos que tratavam das festividades no bairro; e entrevistas com diversos descendentes dos colonos.
“É muito importante dividir esse conhecimento com a comunidade, pois a Cidade Alta tem crescido muito, e as pessoas se mudam para lá sem conhecer a história”, afirma. A partir dessa pesquisa, ela mostra, por exemplo, a importância de Sebastião Kunz para o desenvolvimento do bairro, pois, além de doar o terreno para a igreja, ele participava ativamente das atividades na comunidade e era um dos maiores benfeitores entre os fiéis; busca desmitificar a afirmação de que os colonos que para cá vieram eram pobres e teriam sido explorados por Mariano Procópio.
“A Festa de São Pedro era muito importante para a comunidade, numa época em que o 29 de junho era feriado. Havia alvorada, missa, procissão, leilão (tradição suspensa nos anos 80 e que agora retorna), banda alemã, jogos e queima de fogos. Apesar de haver uma igreja, as missas na época eram mensais e dependiam do deslocamento do padre da Igreja da Glória (cujo primeiro templo também foi construído pelos imigrantes, em 1878) a cavalo, com um dia de antecedência”, acrescenta.
“O bairro tinha diversas características especiais, como a arquitetura que ainda perdura nos imóveis que restaram. Essas famílias, quando chegaram, encontraram a mata tradicional da região, fechada e de árvores baixas, diferente da que conheciam, e tinham que construir as primeiras casas, de madeira e em estilo alemão, no meio desses terrenos. E eles não eram pobres como se costuma dizer, alguns inclusive compraram dois terrenos para suas famílias, sendo que cada um tinha dois alqueires de extensão. Muitos desses descendentes estão lá até hoje, espalhados no bairro depois que os terrenos foram retalhados e vendidos, pois eram muito grandes.”
São Pedro – O coração da colônia alemã de Juiz de Fora
Lançamento no livro neste sábado (30), às 17h30, na Igreja de São Pedro (Avenida Senhor dos Passos 1.592 – São Pedro)