Balança comercial: saldos maiores significam ganhos produtivos?

Por Por Vinícius Nardy e Wilson Rotatori

Nas últimas semanas, foi bastante noticiado o fato de que, em abril, o Brasil registrou recorde histórico no saldo da balança comercial para o mês, U$ 6,97 bilhões. Se, por um lado, esta notícia é positiva pelo impacto na produção e geração de renda, por outro, o simples fato de haver variação positiva no saldo não significa que o país tornou-se um exportador de produtos de alto valor agregado. Quando olhamos para as características dos produtos exportados, a realidade se mostra bem diferente.

 
Ao observarmos as relações comerciais brasileiras classificadas por intensidade tecnológica, concluímos que o país exporta, em maioria, produtos que ou não são classificados por intensidade tecnológica pela simplicidade da produção – agricultura e pecuária, extração de minerais e gás natural, entre outros – ou são da indústria de transformação de baixa tecnologia – principalmente produtos alimentícios.

 
Considerando os meses de janeiro a abril, entre 2010 e 2017, os produtos não classificados por intensidade tecnológica representaram, em média, 37% de todos os produtos exportados pelo país, enquanto os de baixa tecnologia 26%. Portanto, os produtos nacionais vendidos para o resto do mundo se caracterizam por baixo valor agregado e baixa tecnologia.

 

Em contraponto, as importações brasileiras se caracterizam por produtos de média complexidade na produção, como veículos automotores, produtos metalúrgicos, e alta complexidade tecnológica, principalmente aeronaves, que apresentam maior valor agregado. Aqueles classificados como da indústria de transformação de alta tecnologia representaram, em média, 18%; de média-alta tecnologia, 40%, enquanto os de média-baixa tecnologia, 19%. Os de baixa tecnologia e os não classificados representaram em torno de 10% cada.

 
Por conta da maior tecnologia das importações, espera-se que, em tempos de crise e moeda desvalorizada, tenhamos menos capacidade de importar. De fato, ao analisarmos os dados para todo o ano de 2016, notamos um saldo de US$ 47,68 bi na balança comercial, mais que o dobro dos US$ 19,69 bi de 2015. O avanço foi puxado, na verdade, por uma redução mais acentuada nas importações em 2016: enquanto estas foram 19,8% menores (US$ 137,55 bi em 2016 contra U$ 171,45 bi em 2015), as exportações caíram apenas 3,09% (U$ 185,23 bi em 2016 ante U$ 191,13 bi em 2015).

 
Se houver avanço da renda e da atividade econômica, o inverso deve ocorrer, ou seja, as importações irão crescer mais rápido, provavelmente minando o saldo positivo. Portanto, atenção: saldos maiores na balança comercial não necessariamente resultam de pauta exportadora de produtos mais avançados tecnologicamente e, portanto, nem sempre são boa notícia.

 

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Luciane Faquini

Luciane Faquini

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