Mc Xuxú denuncia truculência da polícia
Um vídeo postado pela cantora Karol Vieira, a Mc Xuxú, em sua página no Facebook, mobilizou as redes sociais na manhã desta quarta-feira (15). Na gravação, a cantora relata, em frente à sua casa, no Bairro Santa Cândida, na Zona Leste de Juiz de Fora, que policiais teriam invadido o local e oprimido sua mãe. Em entrevista à Tribuna, a cantora disse que chegou à residência e os PMs estavam no local, perguntando à sua mãe sobre um “menino que havia passado correndo”. Procurado pela Tribuna, o comandante de pelotão da 70ª Cia de PM, tenente Thiago Saggioro, responsável pela região do Bairro Santa Cândida, afirmou que a ação ocorreu dentro das premissas legais e das normas de conduta previstas pela corporação.
Conforme MC Xuxú, já é a terceira vez que o fato se repete. “Eles entram na nossa casa sem permissão e ficam fazendo perguntas como se estivessem insinuando alguma coisa. Já invadiram quando eu estava dormindo, quando minha mãe estava saindo do banho. Ontem cheguei em casa e eles estavam perguntando se ela sabia de menino que entrou, se ela tinha escutado barulho… E ela me disse que foram entrando sem pedir”, conta a funkeira.
Em outro vídeo, gravado por um amigo de Xuxú, a cantora aparece na rua, discutindo com um dos policiais, e em seguida é segurada por ele por um dos braços e levada novamente à porta de um imóvel. Na postagem, ela aparece se queixando de que o PM está usando de força física: “Ele tá me apertando, ele tá me apertando”. Segundo Xuxú, o episódio aconteceu depois que ela e sua mãe saíram da residência. “Eu passei resmungando, ‘você é um lixo’, porque estava nervosa. Mas sei que desacato não é mais crime. Foi aí que ele me puxou pelo braço, me machucou mesmo, e saiu me levando para sei lá onde. Acabamos parando na entrada de um corredor ao lado da minha casa. E ele me perguntava: ‘Quer participar da confusão? Entra aí!'”, relata a MC.
Ainda conforme a cantora, os policiais também entraram em outras casas que dividem o quintal com a sua, residências de parentes. “Escutei barulho de vidro quebrando, de coisas caindo. Quis fazer este alarde na internet, porque em momento algum conversaram comigo como se fosse um ser humano, foi uma postura arrogante, ignorante, constrangedora, e tudo no meio da rua, os vizinhos vendo. Fui perguntada sobre coisas que não sei responder, queriam que eu falasse sobre o que não sabia. E eu quis mostrar com os vídeos como a polícia trata travesti preta da favela.” Até o momento da publicação, o primeiro vídeo havia contabilizado 5.900 visualizações e o segundo, 5.600.
“PM prima pelos direitos humanos”, diz comandante
Como explicou o comandante de pelotão da 70ª Cia de PM, tenente Thiago Saggioro, o Grupo Especial de Policiamento em Áreas de Risco (Gepar) atua pela região do Bairro São Benedito e adjacências, uma vez que a região é conhecidamente um ponto de tráfico. “A viatura, quando em patrulhamento, avistou um suspeito em frente à resistência, com substância análoga a droga. A PM monitorou de longe e percebeu que o indivíduo ia entregar a substância. Quando o suspeito viu a ação da PM, ele evadiu para o interior da residência, e os policiais foram no encalço dele”, relatou o comandante.
Ainda conforme o tenente Saggioro, o suspeito teria deixado pela casa, ao fugir, substâncias análogas a droga, além de um caderno de anotações com possível registro da movimentação de tráfico. “O material foi apreendido, e o indivíduo evadiu, não conseguimos localizá-lo.” O policial destaca que não houve qualquer tipo de opressão durante a abordagem e que a mãe de Xuxú teria, inclusive, sido receptiva aos policiais. “O que houve foi uma solicitação para verificar se o suspeito estava no interior da residência. A senhora franqueou e depois até agradeceu. Foi para a própria segurança dela, pois o indivíduo poderia estar armado, fazê-la de refém…”
O oficial ressaltou também que a PM prima pela defesa e promoção dos direitos humanos. “Nossos cursos de formação, os de reciclagem e os manuais são pautados pela doutrina dos direitos humanos. A PM de Minas Gerais é referência neste sentido, na valorização das minorias e ações voltadas para este público. Seria ilógico se houvesse uma atuação que não corroborasse com todos os princípios de valorização e promoção dos direitos humanos tanto interna quanto externamente”, afirma o tenente.