A surpreendente vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas causou furor pelo mundo, principalmente pelo posicionamento externo protecionista e, no front interno, pela promessa de uma política fiscal expansionista, com corte de impostos, grandes obras e aumento dos juros. A possibilidade de revisão de acordos comerciais e tarifas de importação mais altas fizeram países como o México e a China revisarem perspectivas para o futuro. Preocupações também para o Brasil, onde o comércio com os EUA representou, em 2015, 13,9% das transações comerciais (US$ 50,5 bi).
Dados fornecidos pela Secretaria de Comércio Exterior revelam que, de janeiro a outubro de 2016, as exportações brasileiras para os EUA somaram US$18,8 bi, 12,3% do total no período (US$153,1 bi). Os grupos mais representativos foram “máquinas e aparelhos” (US$3,6 bi), “material de transporte” (US$ 2,9 bi), “metais comuns e suas obras” (US$ 2,4 bi), “produtos das indústrias alimentares” (US$ 1,6 bi), “produtos minerais” (US$ 1,4 bi) e “produto das indústrias químicas” (US$ 1,2 bi).
Uma nova relação Brasil e EUA pode prejudicar a nossa economia, mas não em proporções apocalípticas. A pauta de exportação brasileira atual é bem diversificada em conteúdo e destinos e não deve ser tão afetada. Porém, alguns setores podem sentir com mais força os impactos. Exemplo é o setor de material de transporte, que inclui veículos, autopeças e aviões. Trazer essas indústrias de volta para os EUA foi um dos carro-chefe da campanha de Trump. Outros, por outro lado, podem até se beneficiar da política expansionista prometida, já que os planos de maior investimento americano podem aumentar a demanda por bens de capital, commodities minerais e metais já fundidos.
Se o problema não está nas relações diretas, as indiretas preocupam. Maiores investimentos na economia americana criam perspectivas de maior inflação por lá e abrem possibilidade para aumento nos juros americanos, que elevam os retornos (yields) dos títulos americanos. Com isso, a tendência é que haja fuga de capitais estrangeiros de países emergentes para lá – o ‘flight to quality’. Já as barreiras comerciais podem prejudicar principalmente China e México, importantes compradores de mercadorias brasileiras. Sobre esse assunto, falaremos mais em breve.
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