Vingança sem fim leva jovem para cadeira de rodas
Na casa de Luciano, 19 anos, o ódio impera. Da cadeira de rodas onde foi colocado após ser baleado com 12 tiros por um desafeto na praça do bairro onde mora, em fevereiro deste ano, ele jura que vai se vingar de quem fez isso. Se conseguir, não será a primeira vez que mata. Aos 17 anos, Luciano assassinou o traficante que confiscou seu chinelo da marca Kenner, no valor de R$ 160, por causa de uma dívida de drogas. Ficou uma semana acautelado, embora o Estatuto da Criança e do Adolescente estabeleça até três anos de medida socioeducativa.
Antes de sofrer os tiros, um amigo foi assassinado. Quis se vingar, mas acabou sendo vingado antes. Por causa dos tiros que levou, dois parentes dele foram presos acusados de matar o irmão do rapaz que o deixou paraplégico. “Enquanto quem fez isso não morrer, não vou conseguir mudar de vida”, diz, sem perceber o quanto sua vida já mudou, mesmo que involuntariamente.
De fraldas, ele não consegue nem se vestir sozinho. Está com o corpo coberto de escaras, em função da pouca mobilidade e dos quase três meses de internação no HPS e no João Penido. O jovem perdeu o movimento, mas não o olfato. Desespera-se ao sentir que o corpo cheira mal por causa das feridas. Aos 19, definha pela falta de perspectivas. Recentemente, tentou se matar com uma faca.
A mãe, uma auxiliar de serviços gerais de 49 anos, lamenta as opções do filho. “Não posso me culpar, porque tudo de bom que podia falar para ele eu disse.” Nessa hora, Luciano se traiu. Mudou o tom de ameaça e entregou o tamanho da dor. “Não queria isso nem para meu inimigo”, desabafou, ao mostrar a cadeira que o impede de fugir de si mesmo.
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