Diante de um mercado consumidor cada vez mais dinâmico, as exigências impostas aos sistemas de distribuição são também cada vez maiores. Uma evidência desse dinamismo é a divulgação, em novembro de 2015, de um ‘drone’ (veículo aéreo não tripulado) para entregas domésticas pela gigante de vendas Amazon (o modelo aguarda regulamentação da FAA _ Agência de Aviação Americana, mas já é uma realidade). O objetivo dos produtores e vendedores com inovações desse tipo é conseguir prazos de entrega mais curtos, maior integridade dos produtos transportados e menor custo de transporte. Nessa corrida pela eficiência, o transporte aéreo de cargas tem vantagens: maior área de cobertura, agilidade nas entregas, operações cada vez mais automatizadas e realizadas por mão de obra altamente especializada, reduzindo o risco de avarias e atrasos. Não é por acaso que essa é a modalidade escolhida para transporte de flores, alimentos frescos (incluindo peixes), artigos de moda, eletroeletrônicos, informática, joias, remédios e peças de reposição. Entretanto, o alto custo (indexado pelo câmbio) e consumo de combustível, a limitação do volume transportado e os altos investimentos produtivos tornam o frete dessa modalidade também o mais caro dentre os modais, exigindo inovação constante.
A Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) acompanha o desempenho das 260 maiores empresas de aviação do mundo. Conforme suas estatísticas mais recentes, Ásia (40%), Europa (25,1%), Oriente Médio (16%) e América do Norte (14,2%) são as regiões de maior participação no mercado de fretes internacionais e domésticos. Em 2015, o volume de frete aéreo (Freight-Tonne-Kilometers, FTK) cresceu 2%, um ritmo mais lento do que o verificado em 2014, resultado do declínio na demanda e expansão contínua da capacidade do setor. Na Zona do euro, uma leve recuperação é ensaiada, em virtude dos aumentos das exportações por vias aéreas, porém parece ser ainda insuficiente para reverter o panorama frágil das operações globais.
Com 2,9% e 2,7% do mercado internacional e doméstico, respectivamente, a América Latina registrou a maior queda entre as regiões internacionais, retraindo 6% de FTK entre 2015 e 2014. O resultado negativo foi atribuído à complicada situação política e econômica no Brasil, mas, segundo análises da IATA, a queda se deve mais às expectativas pessimistas em relação às economias mundiais que à queda do fluxo de comércio interregional por aqui. Uma notícia não tão ruim então? Depende da análise que se está lendo. Entre as regiões do Brasil, dados da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) apontam que o volume de cargas retraiu 6,4% em 2015, passando de 426,7 para 399,5 mil toneladas transportadas. Uma informação alarmante considerando que, entre 2005 e 2014, o mercado aéreo de carga no país cresceu a uma taxa média de 3,6% a.a., acumulando 37% no período.
Justamente em meio a este cenário econômico turbulento, está o terminal de cargas (TECA) provisório do Aeroporto Presidente Itamar Franco. A atividade cargueira por lá promete finalmente começar suas operações nos próximos meses, mas somente com cargas de porão (em aeronaves de passageiros). Dessa maneira, a logística aérea de carga na Zona da Mata dará seus primeiros passos, sem perspectivas favoráveis e com movimentações inexpressivas. A aposta é que, em contraposição ao cenário mundial, haja aumento da acessibilidade ao aeroporto pela ligação com a rodovia BR0-40, prevista para o final deste ano. Uma de duas coisas deve finalmente acontecer: ou decola quando a economia retomar ou permanecerá levando nada a lugar nenhum. É esperar para ver.
Por Admir A. Betarelli Junior e Matheus Lily Serrão Dilon. Email para: [email protected]