15 anos depois, o bug do Brasil

Por Conjuntura e Mercados Consultoria Jr.

O ano chega ao fim e não vai deixar saudade em termos econômicos. Se 15 é a idade do debut social, 2015 foi o ano em que finalmente se apresentaram à sociedade as consequências de descontroles econômicos passados. Na infância democrática, entre os anos de 2003-2008, o país prometia, e a expectativa pela grande festa da juventude era grande, mas o baile não saiu como o planejado. O consumo, convidado especial dos últimos anos, terminou a festa na lona, após momentos de exuberância irracional.

De acordo com dados divulgados pelo IBGE, em 12 meses, a taxa de crescimento do comércio restrito (aquele que não inclui material de construção, veículos e peças) registrou queda de 2,1%, após um pico de crescimento de 10% entre 2010 e 2011, na esteira da política expansionista de renda adotada pelo Governo. O comércio ampliado caiu ainda mais: 6%, puxado pela queda de 14% no segmento de veículos e peças. O crédito, grande amigo (e incentivador) do comportamento exagerado do consumo, desapareceu no final da festa. Sem acesso às linhas de crédito incentivadas (a Selic saiu de um mínimo de 7,25% no final de 2012 para os 14,25% atuais e o custo do crédito acompanhou), o interesse das famílias pelo consumo caiu, deixando o convidado especial às moscas.

A conta da exuberância também ficou cara. O repique do dólar (a cotação saiu de R$ 1,60 no final de 2011, para os R$ 3,90 atuais) e, principalmente, o realinhamento dos preços administrados, como telefonia, água, energia (alta média de 52,3%), combustíveis e tarifas de ônibus, pressionaram a inflação, que terminará o ano em 10,44%, de volta aos dois dígitos após ter atingido um mínimo de 3,14% em 2006.

Os convidados internacionais, tão maravilhados com a festa de início, saíram decepcionados com o gran finale. Após um pico de U$ 66 bilhões em 2011, o volume de investimentos estrangeiros diretos fechou em US 62 bilhões em 2015. A balança comercial (cujo saldo atingiu um máximo de US$ 46 bilhões em 2006) encerra o ano em míseros US$ 4 bilhões, mesmo com o real fraco incentivando as exportações.

Depois da festa, a ressaca. Taxas de juros elevadas (as maiores do mundo, na verdade), inflação descontrolada, moeda desvalorizada, instabilidades de toda ordem, reduzem o consumo de crédito e o investimento. Empresas fecham as portas, e o desemprego já afeta 8,9% da população segundo dados do IBGE. O PIB entrou em recessão técnica, em contração de 3,5% em 2015. Desde 1990 não se via um desempenho tão ruim do indicador. E o dia seguinte não promete ser muito melhor. As expectativas para o próximo ano seguem a linha dos resultados observados: espera-se inflação ainda acima do teto da meta, novas altas da Selic e taxas negativas de crescimento do PIB, ainda que menos acentuadas. Quando se trata de economia, a dinâmica segue de perto a vida cotidiana, em que exageros e desequilíbrios de qualquer ordem cobram um preço alto demais para quem fica até o final.

Por Bruno Medeiros, Gabriele Ribeiro, Matheus Martinez, Wilson Corrêa e Fernanda Perobelli. Email para: [email protected]

Luciane Faquini

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