Emocionados e com histórias, 20 bombeiros retornam de Mariana para JF
A emoção marcou, nesta quinta-feira (12), o retorno a Juiz de Fora dos 20 bombeiros que atuaram na busca e salvamento das vítimas da tragédia em Mariana, na região Central de Minas, onde houve a destruição do distrito de Bento Rodrigues, no dia 5, após o rompimento de duas barragens da mineradora Samarco. Eles chegaram no final da manhã, depois de uma semana de trabalho exaustivo, em situação adversa e complexa no terreno formado pelo lamaçal, que chega a ter 20 metros de profundidade na região do leito do rio que corta a vila. O grupo fez parte dos mais de cem bombeiros mineiros mobilizados logo após a catástrofe e foi rendido por outros 14 militares da cidade, enviados para a mesma área devastada na última terça-feira. As buscas em meio ao desastre ambiental tiveram o apoio indispensável de aeronaves e foram concentradas em sobreviventes, desaparecidos e desabrigados.
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Com os olhos em lágrimas, o capitão Rafael Cosendey disse que o trabalho foi recompensador. “Perto do que as pessoas estão sofrendo, nunca vimos nada igual. Não dá para esquecer. Todos nós ficamos muito marcados, para o resto de nossas vidas. Mas estamos prontos para, se daqui a sete dias precisarmos, retornar. Não terminou, e está longe de ser recuperado aquele local.”
A própria dificuldade de se locomover no terreno foi um desafio para os militares, que tiveram como momentos mais marcantes o resgate de pessoas e animais soterrados, vivos ou mortos. “Teve o caso de uma criança de 5 anos que resgatamos o corpo. Ela tinha toda a vida pela frente, e os pais tinham o tempo todo a esperança de ela ser encontrada com vida. Conseguimos levar o conforto de ter encontrado o corpo dela, mas foi uma situação que nos deixou muito tristes”, lamentou o tenente Acácio Tristão. Lidar com a perda das famílias pode ter sido ainda mais difícil para ele, longe da esposa, grávida de oito meses. “Ficamos na expectativa, às vezes sem comunicação, para saber se estava tudo bem. Isso (a distância) é um fator que pesa bastante, mas também nos motiva para, de alguma forma, a levar conforto para aquelas famílias que perderam tudo.”
O capitão Cosendey afirmou nunca ter visto nada parecido em 16 anos como bombeiro. “O evento foi de grande volume, um movimento de massa tremendo de rejeito, de barro, de água. Devastou os vilarejos, e as pessoas perderam tudo o que tinham. Perderam a sua vida e a sua história. Tentamos levar um pouco de apoio, nada comparado ao que eles sofreram.”
Os bombeiros de Juiz de Fora também ajudaram a salvar os cerca de 150 moradores do Distrito de Paracatu, alertados e retirados de suas casas antes da chegada da avalanche de lama.
O sargento Denilton Dias chegou a carregar um bezerro, com cerca de 60kg, nas costas. “Estávamos ali para salvar vidas, independente de ser vida humana”, destacou.
Comandante da tropa do 4º Batalhão enviada a Mariana, o major Alexandre Casarim explicou que a equipe precisou se orientar por meio de mapas e trabalhou de forma integrada com outras forças, como Defesa Civil, polícias e os próprios funcionários da Samarco. “Tivemos que traçar um planejamento estratégico, com informações coerentes, para o emprego da tropa no terreno, demonstrando a segurança e os riscos.”
Solenidade
Os 20 homens chegaram direto à sede do 4º Batalhão de Bombeiro Militar, sendo recebidos pelo comandante do 3º Comando Operacional da Zona da Mata e Campo das Vertentes, coronel Edson Franco. “No mês passado, fizemos um treinamento de atuação em estruturas colapsadas, mas a prática é uma experiência ímpar”, destacou Franco, acrescentando a importância de uma equipe treinada na região em que existem outras barragens de rejeitos de minérios. “Ficamos satisfeitos em contribuir e dar amparo neste momento. Oito corpos foram resgatados, mas ainda há muitos empregados da mineradora e moradores desaparecidos”, lembrou o comandante.
Na sede da corporação, os bombeiros foram recepcionados com uma breve solenidade e receberam certificados pela atuação em Mariana. “Os oficiais e praças logo se prontificaram para irem ao local do sinistro”, lembrou o comandante do 4º BBM, tenente-coronel Sérgio Ricardo Santos de Oliveira. “Os 20 que estavam lá representaram nosso batalhão da melhor forma possível e agora voltam para o convívio de seus familiares.” Os militares receberam sete dias de folga e retornam ao trabalho na próxima quinta-feira.