Em nosso íntimo
A multidão ensandecida gritava pelo nome de Barrabás mostrando a sua escolha. Pôncio Pilatos, governador da Judeia, espantado com a escolha, disse “ecce homo”, “eis o rei ou senhor dos homens”.
Daqueles tempos aos dias presentes, a humanidade, nós, diariamente estamos escrevendo nossa história através das escolhas feitas na rotina diária de nossas vidas. Os fatos demonstram claramente que não temos, com raras exceções, trilhado caminhos saudáveis. Nos mais amplos sentidos, ainda continuamos a rejeitar o Cristo, escolhendo Barrabás, não a pessoa, o personagem dessa trágica história humana, mas tudo que “ele” representou em sua época, suas ideias que repercutem nos corações humanos, gerando as características sociais e políticas da humanidade ao longo dos milênios. A gritaria da turba por Barrabás ainda nos ensurdece, impedindo que ouçamos a meiga voz do Nazareno, que exclama: “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a Terra”.
Ainda que haja em nosso íntimo um resquício de sonho, um discreto desejo de, por alguns momentos, em que, tocados pela dor, pedimos um tanto de luz e calma, pouco ou nada fazemos, optamos quase sempre por um percurso turbulento, cheio de satisfações e desejos nos quais regalamos nosso egoísmo e orgulho, na tola certeza de sermos queridos por muitos e exemplo de alguma coisa. Quando de fato nada mais fazemos do que perder o precioso tempo de uma vida, carregando nas mãos o cetro da “cana verde” na certeza de algum reinado.
Assim, quando a dor bate à porta do coração, chama para si o filho, a esposa, alguém muito amado, o sofrimento atroz corrói todas as vaidades. Perdidos em nosso pequeno mundo, agora somente de dúvidas, ouvimos os sussurros da voz do meigo Nazareno, rogando: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem.” (Lucas: 34). É o Cristo em nome de Deus concedendo uma nova oportunidade para que doravante tenhamos ouvidos de ouvir, olhos de ver e mãos dedicadas ao trabalho para a construção de um ser humano melhor. Aquele que não mais escuta e grita pelo nome do malfeitor, e sim um digno cristão que ergue ao mais alto suas emoções e, com a determinação fincada no bem, escancara todas as emoções mais íntimas e puras, fazendo ecoar as palavras do divino aniversariante, o Cristo de Deus, quando, no Sermão do Monte, disse: “Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade”.