Epidemia cultural


Por RICARDO BARCELLOS ARTISTA PLÁSTICO

30/04/2015 às 06h00

Vivemos tempos transformadores, busca-se uma melhor qualidade de vida para todos os segmentos da sociedade. A ordem vigente é a inclusão. Infelizmente, existem aqueles que, por situações excepcionais, encontram-se segregados do convívio familiar e social. Refiro-me aos dependentes químicos, menores infratores, idosos, detentos, comunidades periféricas. Projetos culturais públicos ou particulares poderiam levar cultura diversificada aos locais carentes e desumanizados. Nossa cidade é pródiga em artistas que atuam em várias áreas. Por que não congregar esse manancial de conhecimento por uma causa de amplitude humanitária?

Com o idealismo próprio dos artistas, não seria impossível organizar mutirões culturais, oficinas de pintura, desenho, escultura, literatura através da leitura de textos… Outros envolvendo eventos com músicas, onde as pessoas pudessem conhecer e manusear instrumentos musicais com os quais mais se identificassem. Concertos eventuais nos bairros e nas instituições. Que as populações, quer sejam segregadas ou não, tenham acesso às inúmeras formas de cultura é direito inerente a todo brasileiro. Ninguém ama o que não conhece.

Sabemos que faltam ofertas de espaços de lazer de qualidade destinados às populações na periferia, incluindo os reclusos. Em muitas comunidades, não existe nem mesmo uma praça para recreação dos moradores, parquinho, biblioteca. Verdade lamentável!

O povo não pode ser subestimado, há tesouros de talentos, inteligência e sensibilidade, ocultos na multidão não frequentadora de “vernissages”, teatros e outros eventos. Essa parcela esquecida da população merece ter cultura e entretenimento, isso é inclusão e pertencimento.

A ociosidade e a falta de objetivos são péssimos companheiros. É preciso dar o primeiro passo, provocar uma “contaminação” pelo vírus da cultura, motivar e impulsionar a pensar, saber, querer, fazer. Nada é mais socializador que cultura vivenciada de maneira espontânea e lúdica permitindo a muitos descobrirem habilidades e talentos por vezes soterrados pela marginalidade e abandono.

Acredito que o reencontro com a autoestima será fator decisivo para a reabilitação de muitos. Como sonhar nunca foi proibido, quem sabe esse sonho possa transformar-se em realidade, devolver à sociedade cidadãos inteiros, capacitados a uma socialização plena. Nosso país e as futuras gerações agradecerão.

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