O espírito da arte


Por IRIÊ SALOMÃO DE CAMPOS, COMUNIDADE ESPÍRITA A CASA DO CAMINHO

29/11/2014 às 07h00

No último dia 18 do corrente, um pequeno número de brasileiros desvencilhou-se das dificuldades rotineiras, libertou-se das notícias sobre os escândalos de corrupção para celebrar o bicentenário do desencarne do mestre arquiteto escultor, Antônio Francisco Lisboa, erroneamente chamado de “Aleijadinho”. Este homem que viveu para a arte nos legou preciosa herança cultural que o tempo não apagou e permitiu incluir Antônio Francisco entre os mais respeitados artistas barrocos do mundo.

O grande poeta Ferreira Gullar costuma dizer que “a vida sem arte é muito feia”. Hermeto Pascoal afirma que é necessária outra e outra vida “reencarnação” para que se aprenda tudo que a música possa ensinar. Então nos perguntamos: qual o sentido da arte para nossa vida?

Léon Denis (1846-1927) em seu livro “O espiritismo na arte” afirma que a arte é a busca, o estudo, a manifestação da beleza eterna da qual percebemos, aqui na Terra, apenas um reflexo. Para contemplá-la em todo seu esplendor, em todo seu poder, é preciso subir de grau em grau em direção à fonte de onde ela emana, que é Deus. E isso não é fácil para a maioria de nós, ainda muito dominados pelas materialidades. Mas o Pai, em sua bondade infinda, insiste em nos despertar os bons olhares quando diariamente nos oferta o espetáculo noturno das estrelas que brilham no universo, e tudo que nele se encontra é a fonte de inspiração aos artistas.

Quanto mais há capacidade em se compreender as coisas espirituais e suas influências na regência de nossas vidas, mais aptos nos tornamos, mais a inteligência se apura, se aperfeiçoa e se eleva e mais se impregna com a ideia do belo, que é o objetivo essencial da evolução. Sem estar atento ao belo, favor não confundir com a beleza física, não é possível compreender a essência dos ensinos do Cristo, pois estamos despidos do sentimento de harmonia, equilíbrio, igualdade e tudo mais que enobrece o sentimento humano. Buscar aprender a enxergar o belo, ouvir e falar das belezas imateriais é o sonho dos artistas, mas também deve ser o objetivo de todo pretendente à evolução.

Claro que nem todo artista se inspira no ideal da beleza superior, alguns se limitam a copiar a sua moda aquilo que está ao seu redor, imprimindo na obra sua característica pessoal. Mas é assim, a evolução é individual, o que justifica no passado, e mais timidamente hoje, alguns artistas serem apontados como mestres.

Emmanuel, na psicografia de Chico Xavier, assim se refere à arte: “O que há de sublime na arte é a poesia do ideal que nos transporta para fora da esfera acanhada de nossas atividades. Mas o ideal paira exatamente nessa região extramaterial em que só se penetra pelo pensamento, que a vista corporal não pode varar, mas que a imaginação concebe”.

Que Deus ampare a todos que têm nas sublimes artes o bálsamo de suas vidas.

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