Lição do passado
Há poucos dias, a cidade de Paris foi literal e profundamente abalada pelas luzes estrondosas e mortíferas de bombas e disparos de fuzis da intolerância radical. Excetuando o fato de ter ocorrido na França, o acontecimento não é único. Já se deu em Munique, em Madri e em Londres. Aí também não é novidade, o que não retira nem ameniza a crueldade. O radicalismo religioso está presente entre a humanidade de longa data. Mais enfaticamente, podemos encontrá-lo nas Santas Cruzadas (1096-1272), quando, em nome da Igreja, milhares de muçulmanos tiveram suas terras, casas e famílias destruídas. Posteriormente, a tragédia foi revivida na Santa Inquisição (1184-1542).
Foram 362 anos de assassinatos, torturas e muito mais, regidos pela intolerância religiosa. Mas há quem diga que isso é passado, é apenas história. Sim, de fato, é passado, aos olhos do materialismo imediatista. Não é prudente nos esquecer da reencarnação e da Lei de Causa e Efeito. Porém, se o amigo leitor não crê nesses dois princípios, então se lembre do ensino de Jesus: “Se vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo algum entrareis no reino dos Céus” (Mateus, 5:20).
Escribas e fariseus eram pessoas extremamente zelosas com os rituais e regras cerimoniais. Toda essa religiosidade não ia além das práticas exteriores, orgulhosos por crerem pertencer a uma raça superior, escolhida por Deus. Egoístas e duros de coração, humilhavam aqueles que julgavam inferiores. Não tão diferente de muitos que hoje dizem crer em Deus e seguir os passos do Cristo e se revoltam quando seus desejos pessoais não se concretizam. Maldizem Deus quando a conjuntura pede algum sacrifício; ofendem e humilham ao próximo, por este não comungar do mesmo ponto de vista, e se proclamam o povo de Deus, descriminando e expurgando crentes de outras religiões.
Como acenderemos a luz se permanecemos nas trevas quais os fariseus e os escribas? Ainda cultivamos simpatias somente aos nossos pares, amamos os que nos amam, gostamos apenas dos bons, respeitamos somente os de nossa cor ou companheiros de fé e, agindo assim, continuamos a fazer distinção aos filhos de Deus, o que é ser particularmente intolerante, preconceituoso, podendo chegar ao radicalismo, talvez não da arma de fogo, mas o da beligerância no grito e do desamor.
De fato, a religião não importa. Seja espírita, católico ou evangélico, se não testemunhar em ações verdadeiras os ensinos do Cristo, seremos religiosos, não cristãos. E, por nos conhecer no mais íntimo, em todas as nossas fragilidades, Jesus nos adverte no Sermão do Monte, onde fundamentou as bases do Cristianismo: “Se a sua justiça não for além das aparências, de modo algum atingirá a felicidade”.
