Síndrome de Neymar
Neymar deixou de sua atuação na última Copa uma imagem caricatural que não condiz com as suas qualidades de craque. Extravagante no corte do cabelo, exagerado nas reações às faltas sofridas, exibicionista dentro e fora de campo, o talentoso atacante da nossa Seleção acabou passando por um mistificador e atraindo, em razão disso, a má-vontade da imprensa internacional. Esses defeitos, porém, decorrem simplesmente de uma falha de personalidade, sinal de carência da orientação comportamental que lhe parece ter faltado até aqui. Neymar é um jovem imaturo, a quem o sucesso tem trazido fortuna, mas muito tem prejudicado pela precocidade com que foi conquistado.
Refletindo sobre o caso do jogador, verifica-se, contudo, que o seu comportamento não é inusitado entre personalidades de projeção pública no nosso país. Talvez seja até mais comum do que se pensa ou do que se queira admitir. Olhando o panorama político, às vésperas de uma eleição presidencial, estão aí exemplos de políticos que, como Neymar, dão mostras de atitudes individualistas, atraindo para si o foco das atenções, assumindo posturas que, a toda evidência, não visam ao interesse de um partido nem muito menos ao da nação, mas têm em mira, tão somente, dar demonstração do poder de domínio que supõem deter e a que todos, na sua concepção, haveriam de subordinar-se.
O caso mais evidente desse tipo de conduta é o do líder que, embora sabidamente inelegível, porquanto condenado, em segunda instância, por crime comum, insiste em ignorar o obstáculo legal que o impede de concorrer e procura transmitir ao mundo a versão de que seja um preso político tolhido no seu direito de candidatar-se, ainda que isso represente uma atitude quixotesca, da qual o primeiro prejudicado será o seu próprio partido. E os que, à esquerda e à direita, apresentam-se como salvadores da pátria, mesmo que lhes faltem votos e credibilidade para tanto? Desses, um impressiona pelo destempero emocional e pela agressividade verbal, outro pelas ideias bizarras e pelas tendências autoritárias.
Os leitores de Eça de Queirós hão de recordar-se do final do romance “A Ilustre Casa de Ramires”, quando amigos do personagem principal, aguardando seu retorno de longa ausência do país, põem-se a falar do homem bom que ele é, cheio de qualidades, mas com algumas inconsistências de comportamento que tanto o prejudicavam. E um deles surpreende a roda ao descrever os traços de sua figura dissociando-os, porém, da própria pessoa do amigo, para concluir que tudo aquilo se resumia numa palavra: é Portugal. Talvez possamos dizer o mesmo quanto às extravagâncias de Neymar: é o Brasil!