A Zona da Mata do samba


Por JOSÉ EDUARDO MODESTO - COLABORADOR

28/02/2014 às 06h00

Tudo teria começado com o nosso conterrâneo e sambista Antônio Rufino dos Reis, que se juntou a Paulo, o da Portela, ajudando a fundar a maior campeã do carnaval do desfiles de escola de samba do Rio de Janeiro. Depois Synval Silva, cantor e compositor juiz-forano, autor de várias músicas gravadas por Carmem Miranda. Ele era seu compositor favorito e professor de violão de futuros mestres como Guilherme Brito. Synval também é um dos fundadores de outra escola de samba carioca, a Império da Tijuca, e autor do termo bumbumpaticumbumprugurundum. Quase ao mesmo tempo, Geraldo Pereira, outro juiz-forano, foi para o Rio tornar-se um dos maiores compositores de samba do Brasil, criando o samba sincopado.

Seguindo os passos dos pioneiros, pelas linhas do trem da antiga Estrada de Ferro Leopoldina e depois da Central do Brasil, levando outras riquezas, além do queijo e do café, mais mineiros da Zona da Mata do samba foram mostrar seus valores na então capital federal, o Rio de Janeiro, como Ataulfo Alves, de Miraí, que virou referência nacional. Também Noca da Portela, de Leopoldina, e mais recentemente, João Bosco, de Ponte Nova. Isso sem contar as incursões musicais de Mamão, com Tristeza pé no chão, e as belezas musicais nativas de Ministrinho e Nelson Silva, em termos locais, trazendo o pioneirismo para as escolas de samba Turunas do Riachuelo e Feliz Lembrança em Minas, o que fez de Juiz de Fora o segundo lugar do Brasil em termos de desfile de escola de samba, no final década de 1970.

Infelizmente, nossa Zona da Mata ficou para trás também nessa área… muitos aqui devem saber dessas histórias e são descendentes das famílias que ajudaram a construir nossa cultura. Sabemos que a influência baiana no samba, especialmente no que se refere ao ritmo, é muito grande. Há de se pesquisar as influências da Folia de Reis e do Congado nos desfiles das escolas de samba, como se sabe que existiu, especialmente no Império Serrano e na Portela no Rio de Janeiro. O palhaço da Folia de Reis não teria originado o passista das escolas de samba? A Zona da Mata do samba colocou Minas Gerais na segunda posição de polo do samba, atrás somente do Rio. Temos que recuperar este posto.

Dizia um amigo juiz-forano para outro carioca: Nossa influência no Rio de Janeiro é muito grande, quer ver? Para que time vocês torcem? Flamengo, Botafogo, Vasco, Fluminense… igual a gente!. Se alguém disse que mineiro não sabe sambar ou é ruim da cabeça ou doente do pé, como dizia o bom baiano Dorival Caymmi, que aliás morreu em Pequeri, na Zona da Mata do samba…

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