A era do politicamente incorreto
As redes sociais são ferramentas poderosas, com incontáveis aplicações e recursos que vão muito além da simples utilização dos usuários no dia a dia. O Brasil é um dos principais mercados do setor no mundo, e, de acordo com dados recentes da ComScore, a população brasileira é a segunda com a maior média de tempo de utilização dessas ferramentas, atrás somente dos Estados Unidos.
De fato, os brasileiros adoram as mídias sociais. Segundo o mesmo estudo, 90,8% dos internautas brasileiros estão nas redes sociais e gastam, em média, 4,9 horas mensais nesse tipo de site. Em outra pesquisa, feita pelo Ibope/YouPix, 92% dos jovens do país que acessam a internet são apontados como usuários das plataformas de relacionamento. Mesmo quando se leva em conta o total de pessoas que navegam na rede, independentemente da faixa etária, o número chama a atenção: 78% acessam algum tipo de rede social.
Esses índices foram destacados, neste ano, por duas publicações estrangeiras. O periódico “The Wall Street Journal” chamou o Brasil de “capital das mídias sociais do universo”, e a revista “Forbes” definiu o país como “futuro das mídias sociais”. Contudo, apesar de estarmos no topo do interesse das principais empresas do setor, ainda precisamos evoluir nesse ambiente, especialmente na questão do respeito ao próximo.
Frequentemente, um número considerável de pessoas tem se excedido em comentários e posts e, em alguns casos, se esquecendo da dimensão das redes. Várias mensagens de conotação perversa, intimidadora, racista ou que demonstram discriminação sexual estão disponíveis para todos. Mesmo aqueles usuários que limitam as configurações de seus perfis e restringem as visualizações para pessoas desconhecidas fazem dos amigos um público obrigatoriamente fiel de seus pensamentos – pelo menos até o próximo bloqueio.
Nas eleições deste ano, tivemos muitos exemplos de como uma grande parcela da população desconhece o poder e alcance das redes sociais. Independentemente da preferência política do usuário, o que se viu foram mensagens e ataques absurdos, como os feitos aos nordestinos. Esse foi um caso de evidente extremismo, e, se pararmos para analisar as ferramentas de interação, não será difícil achar outros posts que ultrapassem os limites do bom-senso.
Um fato que também ganhou grande repercussão em 2014 foi a série de comentários racistas no Facebook sobre a foto de um casal de Muriaé, na Zona da Mata de Minas. A jovem negra, que namora um rapaz branco, postou uma selfie dos dois juntos. A foto despertou diversas manifestações racistas na rede, algumas escancarando sentimentos de ira e ódio. Apesar da grande repercussão na mídia, os responsáveis pelos atos preconceituosos ainda não foram punidos, o que só serviu para continuar multiplicando casos como esse, que acontecem todos os dias, das mais variadas formas, nas redes sociais.
São inegáveis o poder e a importância das redes sociais em nossa sociedade. O que precisamos entender é que essas ferramentas são uma extensão da nossa vida, e as atitudes aparentemente inofensivas na internet podem tomar dimensões inimagináveis. Por isso, todo cuidado é pouco, principalmente, quando o objetivo de um usuário vai além de contribuir com a discussão e com o exercício da cidadania.