Teoria do sistema imundo


Por Tadeu Silva, colaborador

27/04/2017 às 06h00- Atualizada 27/04/2017 às 07h46

Em artigo denominado As dores do pós-colonialismo (“Folha de S.Paulo”, 11/08/2006), o sociólogo português Boaventura de Souza Santos saudou o início da descolonização brasileira, principalmente a partir do combate ao racismo estruturante do sistema mundo, pelo protagonismo de suas vítimas. Assim, a propalada igualdade das raças, que lhe dava suporte, ia sendo desnudada internamente na realidade efetiva posta à vista de todos pela ação da movimentação política negra, comprovando que o humano é um apenas e que o capital coloriu e discriminou para explorar, desde o século XV.

Contrapartida institucional acolheu na instância pública medidas indicadas nas convenções internacionais, legislação, normas internas, etc., como políticas inclusivas diretas, as cotas, e indiretas, programas sociais Bolsa Família e Minha Casa, Minha Vida, etc., que, focando na pobreza, focou na pretitude. Isso deu ao Governo Lula uma tonalidade distributiva tendente ao colorido real brasileiro, verdadeira afronta ao comando capitalista.
Tal coloração alcançou os sacrifícios do Governo Dilma, até que se iniciou gradativamente a reação caiada, pelo equívoco governamental em tentar revestir-se com demãos da invisibilidade mercadológica. Com o golpe, o presidente golpista montou um gabinete que lembrou a passagem bíblica do sepulcro caiado, branco, macho, corrompido.

A Teoria do Sistema Mundo, do filósofo americano Imannuel Wallerstein, mostra os países centrais, entre outros achaques, explorando a semiperiferia e periferia, importando matéria-prima e mão de obra barata e exportando produtos industrializados, de alto valor agregado e mão de obra especializada. O autor anota que o arranjo é garantido através de instituições como o FMI, Banco Mundial, BID, OMC, ONU e iniciativas como o Consenso de Washington e “paz liberal”, organizando o capital contra avanços da classe trabalhadora.

Isso permite que a reação capitalista lance mão de algumas soluções em nível mundial: 1) espacial, com realocação da produção; 2) tecnológica/organizacional, redução da mão de obra, terceirização, ataque às relações trabalhistas; previdência, precarização do ensino, privatização, etc., 3) produto: investimento em lugares menos sujeitos aos conflitos; 4) financeira: investimento em finanças e especulação. Assim, o resultado econômico positivo é capturado privadamente, e o negativo, socializado, vide a falência de uma cadeia de lojas de eletrodomésticos, com o desemprego de milhares de trabalhadores.

Boaventura explica que o sistema exige duas realidades complementares. No centro, o Estado de Direito, cidadania, democracia. Na periferia, o estado policial gerenciado pela elite corrupta (o Banco Itaú se livrou de uma dívida de R$ 24 bilhões com a Receita), violenta, receptora de comissão pelo assalto (por exemplo: escancararam as delações e as medidas de desmanche previdenciário, legislação trabalhista, ensino médio, venda do campo petrolífero Xerelete, avaliado em R$ 100 bilhões por R$ 2,2 bilhões). Wallerstein vê sua teoria inserida na resistência trabalhadora. A movimentação política negra abriu o mês marchando em São Paulo, porque, pelo exposto, é a principal vítima do golpe. Trabalhadores indicam Greve Geral para o dia 28, em recusa ao sistema, ao golpe, ao seu teor, às suas medidas.

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