A eleição das hashtags


Por Luís Cláudio de Carvalho, ex-secretário de Governo da Prefeitura de São Lourenço

26/09/2018 às 07h00

Estamos vivendo um período eleitoral bastante atípico. Além de ser o primeiro de eleições em que quase a totalidade dos eleitores está conectada pela internet, acompanhando e expondo suas ideias, através das redes sociais, está sendo também o das palavras de ordem e das hashtags. De “Lula livre” a “bolsomito neles”, os eleitores brasileiros vão se atacando ou defendendo, bem como tentando impor sua opção aos demais. Depois da saraivada de “B17” e “#eusoubolsonaro”, surgiu o “#elenão”, que já está famoso e fazendo nascer outros tantos, como “#elesim” e “#elenunca”.

O maior problema está na facilidade, no comodismo e no modismo de usar esses recursos para não ter que apresentar um argumento plausível ao motivo da escolha ou à altura dos argumentos daqueles que são contrários. Na verdade, a maioria não está levando em conta o perfil, o histórico e, muito menos, as propostas dos candidatos. E isso é muito perigoso. Votar acompanhando a “onda” ou pela popularidade de determinados candidatos pode trazer más consequências ao país, que já sofre com a crise econômica.

A economia é a base de tudo. Dela depende a nossa qualidade de vida. E um erro nessa área pode levar anos para se voltar à normalidade. Mesmo com exemplos recentes no Brasil e nos países vizinhos como Venezuela e Argentina, as pessoas não têm se preocupado em conhecer as propostas dos candidatos para a área econômica.

Conseguimos sair da nossa pior crise, proveniente dos governos militares e de seus sucessores imediatos, quando a inflação era altíssima, com a implantação do Plano Real e de medidas econômicas planejadas e estudadas por economistas experientes e competentes. No Governo FHC, essas medidas foram aperfeiçoadas, e obtivemos a estabilidade econômica. Lula venceu as eleições de 2002 e teve a astúcia e a responsabilidade de manter a estabilidade e, com isso, conseguiu grandes avanços na área social. Dilma não teve a mesma perspicácia e possibilitou o início da crise econômica que se arrasta até hoje.

Por isso, atualmente, seria muito sensato que o eleitorado se preocupasse mais com as propostas dos candidatos, especialmente na área econômica. É muito importante que o candidato tenha propostas claras e viáveis, que se disponha a fazer as reformas necessárias e se apresente com franqueza e transparência aos eleitores. Se continuarmos pautados apenas nas palavras de ordem e nas hashtags, como se as eleições fossem um campeonato do “nós contra eles”, o futuro do país passará de incerto a tenebroso.

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