Violência sem fim


Por JORGE SANGLARD Jornalista e pesquisador

26/08/2014 às 06h00

Juiz de Fora vivencia uma escalada da violência sem fim. Entre 1º de janeiro a 21 de agosto de 2014, a cidade já contabiliza 92 homicídios. Uma morte violenta a mais do que os 91 assassinatos ocorridos entre 1º de janeiro a 30 de agosto de 2013. Esses números são assustadores, pois demonstram que, apesar de tudo que vem sendo feito, os índices de mortes violentas não diminuem.

E algo de concreto e imediato precisa ser feito para barrar o crescente número de homicídios. É importante ressaltar que, no período entre 17 de junho a 5 de julho de 2014, em plena realização dos jogos da Copa do Mundo no Brasil, não aconteceu nenhum assassinato em Juiz de Fora. Até o dia 16 de junho, tinham ocorrido 78 mortes violentas, e a partir de 6 de julho os homicídios voltaram a acontecer na cidade.

A análise desses dados está sendo avaliada por especialistas da UFJF no Laboratório de Estudos da Violência e também pelo pesquisador do Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas (NUPPs) da Universidade de São Paulo (USP) Leandro Piquet Carneiro, que vem acompanhando o número de homicídios em Juiz de Fora desde 2010. A partir dos dados pesquisados até agora, verifica-se que o número de homicídios em Juiz de Fora continua crescente. Em 2013, ocorreram 139 homicídios na cidade, o que corresponde a uma taxa de 28,4 homicídios por cem mil habitantes.

A direção apontada pelo número de assassinatos é clara: houve um aumento rápido e significativo no número de homicídios em Juiz de Fora a partir de 2010. E esse grave problema de segurança pública segue aumentando. Apenas no primeiro trimestre de 2014, ocorreram 46 assassinatos. Esse dado impressiona porque revela que nos três primeiros meses do ano ocorreram mais crimes violentos do que em todo o ano de 2007 na cidade.

Se confirmada a taxa de 28,4 homicídios por cem mil habitantes também em 2014, Juiz de Fora estará acima da média nacional, que, em 2012, foi de 20,4 segundo o pesquisador Leandro Piquet Carneiro. Uma década antes, a taxa de homicídios na cidade era de 8,4 por cem mil habitantes. Se o Brasil melhorou entre 2003 e 2012, graças à diminuição dos homicídios em São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco, Juiz de Fora deixou de integrar o grupo das cidades menos violentas do país e, se nada for feito de concreto, caminha para figurar entre os casos de fracasso na segurança pública.

O que é mais chocante no caso de Juiz de Fora, alerta Leandro Piquet Carneiro, é que a cidade tinha um padrão quase uruguaio de violência na década de 1990, com apenas 4,4 homicídios por cem mil habitantes. Pacífica e ordenada, Juiz de Fora era um exemplo de segurança pública, enquanto Rio e São Paulo ultrapassavam a barreira dos 40 homicídios por cem mil habitantes. Vinte e quatro anos depois, a taxa de homicídios em São Paulo reduziu 77%, de 53,6 homicídios por cem mil habitantes em 1999 para 12 em 2012. E Juiz de Fora fez exatamente o caminho inverso e apresentou um aumento de 238% no número de homicídios no mesmo período. É hora de barrar essa triste e dramática estatística.

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