Verão urbano
Aos recordes de alta temperatura atingidos em 2014 soma-se, no caso das cidades, uma série de variáveis que contribui para acentuar o fenômeno. Trata-se do excesso de construções, da impermeabilização do solo – sobretudo o asfaltamento -, da poluição atmosférica – poeira, pólen, fumaça e fuligem de fontes industriais e veículos automotores que usam combustíveis derivados do petróleo – e da carência de áreas verdes, que cumprem funções sociais e ambientais integradas indispensáveis ao “metabolismo urbano”. Vamos entender melhor, portanto, no que consiste esse aumento das médias térmicas nas cidades, denominadas ilhas de calor, agravadas por um fenômeno de escala planetária conhecido como aquecimento global.
O excesso de construções atua aumentando a temperatura porque a alvenaria tem um baixo calor específico (aquece rapidamente quando exposta ao sol) e porque os edifícios limitam a circulação do ar, agravando inclusive os efeitos da poluição. Em Juiz de Fora, soma-se a isso a topografia acidentada do relevo, que obriga os veículos a circularem em marcha reduzida, consumindo mais combustível e poluindo mais.
A impermeabilização do solo consiste na cobertura artificial do mesmo, com concreto ou asfalto. No caso do asfalto, a temperatura aumenta ainda mais, pois existe um índice de reflexão, denominado albedo, segundo o qual superfícies claras refletem a radiação solar ao passo que superfícies escuras absorvem radiação e irradiam calor. Essa experiência pode ser facilmente comprovada usando-se roupa preta em um dia ensolarado de verão: a sensação de calor aumenta quase instantaneamente, daí a recomendação do uso de roupas claras no verão.
A poluição atmosférica é outro fator que, nas cidades, contribui com o aumento da temperatura, haja vista dificultar a irradiação de calor para as camadas mais altas da atmosfera e mesmo para o espaço exterior, formando uma estufa nas cidades. Material particulado também retém calor, pois, como tem massa, está sujeito à exposição ao sol e, assim, ao aquecimento.
Finalmente, a vegetação é essencial nas cidades, pois produz sombreamento e absorve parte da radiação solar, formando as ilhas de frescor. Também é importante porque permite a infiltração das águas pluviais, evitando enchentes. A vegetação urbana reduz em até 30% o ruído provocado por veículos e obras na cidade e atrai espécies da fauna que polinizam, dispersam sementes e controlam populações de insetos. A vegetação é importante na manutenção da estabilidade de encostas e na preservação de espécies ameaçadas, mesmo nas cidades. Além de tudo isso, as áreas verdes, escassas em Juiz de Fora, sobretudo as públicas, cumprem uma função social relevante, pois são áreas de convivência, descanso, entretenimento e práticas de atividades físicas e de lazer.
Enfim, em tempos de mudanças climáticas, escassez de água e outros eventos climáticos extremos, o planejamento urbano se torna ainda mais necessário como instrumento de gestão de crises que, hoje, afetam a todos, mas, em especial, os países menos preparados para lidar com elas.