O voto dos indecisos


Por BRUNO CARLOS MEDEIROS Colaborador

24/10/2014 às 07h00

Da política dos partidos que estão no páreo neste segundo turno, carrego uma visão bem menos negativa do que a propalada por seus opositores. O estigma que concedo a eles é próximo de zero, o que permite que a figura do candidato esteja ao centro dos meus julgamentos, não a sigla a que ele pertence. Ainda assim, de acordo com o merecimento, faço ressalvas, critico e aplaudo ambas as legendas.

Faço parte de uma pequena, porém expressiva, parcela do eleitorado – a dos indecisos, aqueles que rejeitam a inutilização do voto, portanto, buscam decidir, de maneira racional, pelo projeto que mais se compatibiliza com os seus anseios.

Para nós, mais do que os meros desdouros proliferados pelas artilharias das campanhas, valem as propostas, os ideais e, por que não, aquela pitada de benefícios esperados para contemplar a classe da qual fazemos parte, porque é legítimo que nossos tímidos desejos desprovidos de altruísmos também contribuam para a nossa decisão.

A democracia brasileira, mesmo que quase balzaquiana, é uma instituição política que vem sendo aperfeiçoada continuamente, e penso ser importante que façamos justiça e reconheçamos o papel de cada um dos partidos em voga para o que já foi e vem sendo construído. A eleição do PT não ensejou a ruptura com a política econômica de FHC, e, partindo desta premissa, os programas sociais serão mantidos caso o PSDB reassuma a Presidência. Estou certo de que as contribuições dos governos vindouros se somarão às já instituídas, embora para a beligerância obrigatória dos escrutínios não seja aceitável permitir concessões para o reconhecimento das qualidades do adversário. Se rejeitamos a ideia de que as boas intenções são atributos de um único partido, reconhecemos as futuras dificuldades de qualquer um dos eleitos, que seguirá subjugado às limitações orçamentárias, à conjuntura macroeconômica e, não menos crucial, ao fisiologismo do Congresso.

Para o dono do voto fracassado, resta o alento de assumir os riscos de desfazer-se de suas perrices, para legitimar o mandato de um entre os dois candidatos escolhidos pelos demais, mesmo que rejeitados por nossa confiança. Ainda que mais uma vez nossa escolha não encontre respaldo nas urnas, fica a convicção de que, através do voto consciente, contribuímos para o fortalecimento da democracia e, de quebra, para o futuro de nossa nação.

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