Violência contra as mulheres
“O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso.” Resposta de Ariano Suassuna quando lhe perguntaram o que ele pensava sobre a vida e a realidade.
O advento do Natal nos faz abraçar o desafio de articular realidade e esperança na tentativa de superação do grave problema da violência contra as mulheres no Brasil. Mas cumpre antes indagar: seria possível colher alguma esperança diante da nossa realidade?
Fato é que, no tocante a esse tipo de violência, enfrentamos uma realidade-barbárie: a cada dois minutos, se registra uma ocorrência com base na Lei Maria da Penha; a cada nove minutos, uma mulher é vítima de estupro, e, a cada dia, três mulheres são assassinadas (feminicídio). E, num país tão absurdamente desigual quanto o nosso, essa patologia se agrava exponencialmente quando consideradas a cor e a condição social das vítimas: as mulheres negras e pobres compõem a grande parte desse contingente.
Não obstante toda essa iniquidade, poder-se-á, todavia, falar em esperança. E esperança por certo existirá enquanto não perdermos ou não abdicarmos disso: a capacidade de nos indignar, de nos escandalizar em face dessa banalização da violência contra as mulheres, às quais absurdamente se nega a condição de pessoas humanas dotadas de uma essencial dignidade. Mulheres reduzidas à condição de coisas, como coisas sendo tratadas, e destratadas, e descartadas.
Apesar de ainda não concretizadas muitas das políticas públicas previstas em seu texto normativo, é certo que a Lei Maria da Penha tem representado um papel-chave no enfrentamento desse problema social. Contudo, o poeta nos adverte que “os lírios não nascem da lei”.
Mas eles decerto haverão de nascer quando construirmos uma nova mentalidade fundada na igualdade e no respeito entre homens e mulheres. Tarefa de gerações, mas que começa hoje, aqui, agora. Tarefa de pessoas de boa vontade, realistas e esperançosas.