A política e o mundo virtual
O mundo virtual abriu uma nova perspectiva para as relações humanas
O mundo virtual abriu uma nova perspectiva para as relações humanas, não podendo deixar de impactar, pois, a vida política. Muitos são os efeitos positivos das redes sociais, na divulgação de ideias, na propaganda eleitoral, na formação de lideranças. As últimas campanhas políticas realizadas no Brasil, especialmente, mostraram, a toda evidência, o peso das redes sociais. Mas, à semelhança do que sucede com a inteligência artificial, são enormes, igualmente, os riscos ou os efeitos negativos desses novos recursos. Não nos podemos iludir quanto a isso nem nos deixar embair pela suposição de que penetramos num mundo mágico, que haja superado todas as formas tradicionais de convivência social e de atuação política.
O tema foi abordado por Andrés Bruzzone, no livro Ciberpopulismo – Política e Democracia no mundo digital. O autor mostra, em análise bem elaborada do panorama mundial, como as redes sociais contribuíram para a criação de um clima de polarização política e o advento de um novo populismo, contrário ao pluralismo democrático. A solução que propõe, todavia, parece um tanto contraditória: é a de contrapor, ao populismo autoritário de direita, um populismo de esquerda, supostamente virtuoso, apto a assegurar uma democracia aberta ou plural. Se essa é uma conclusão do autor, na perspectiva da ideologia que professa – e que, por isso, o leitor terá em conta na medida das suas convicções pessoais –, o que surpreende, entretanto, na leitura do livro, é a constatação de que “a sociedade digital eliminou ou reduziu o papel dos intermediários: meios de comunicação e partidos políticos perderam o protagonismo que tiveram no século XX” (pág. 114).
Talvez se tenha reduzido, no mundo virtual, a influência dos jornais e da TV. É preocupante, porém, que haja certo declínio dos partidos políticos, no mundo democrático. Se isso é verdade, cumpre aos líderes políticos empenhar-se no sentido de reverter tal situação, procurando revitalizar os partidos políticos. Na feliz expressão de Afonso Arinos de Melo Franco, o partido é “o lar cívico” do cidadão. O partido atua como um canal de representação política, um centro de discussão de ideias, um instrumento de aglutinação dos que compartilham de pensamento comum, destinado a vocalizar as aspirações de um determinado setor da sociedade, visando a imprimir rumo a uma comunidade ou a um país. Sem o partido político, desaparece a coesão e há uma dispersão perigosa dos cidadãos, fadada a privilegiar o personalismo e a conduzir à anarquia ou ao cesarismo. O que nos falta, no momento, no Brasil, é um quadro partidário mais expressivo, que possa revelar lideranças capazes de conduzir o país a uma democracia plena. Líderes que sejam intérpretes dos seus partidos — e não os donos ou chefes.
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