A ‘simpatia de Chico Xavier’


Por Álvaro Aleixo Martins Capute, colaborador

23/03/2017 às 08h15- Atualizada 23/03/2017 às 09h46

Certa vez, recebi uma “simpatia de Chico Xavier” num grupo “espírita” do WhatsApp, sugerindo que, ao compartilhar com outras pessoas, dentro de quatro minutos, receberia uma notícia boa. Como espírita, fiquei incomodado com tamanha distorção do verdadeiro caráter da doutrina espírita.

Neste caso, a única notícia boa que gostaria de receber é a de que o movimento espírita sinceramente assumisse seu total afastamento do espiritismo de fato; que reconhecesse sua absoluta omissão e negligência quanto aos fundamentos e princípios da doutrina espírita; que admitisse sua condição completamente deturpada, alienada, passiva, messiânica, mágica, crédula, irrefletida, entusiasmada, supersticiosa, sentimentalista, imediatista, igrejeira, etc., ou seja, inteiramente avessa à razão, ao estudo, à pesquisa, à observação, à análise, ao discernimento, ao conhecimento.

A única notícia boa que gostaria de receber é a de que o movimento espírita verdadeiramente assumisse que é tudo e tem de tudo, menos espiritismo; que admitisse sua real condição e seus reais interesses materiais e espirituais; que se declarasse tal qual de fato é, ou seja, que possui grande aversão a Allan Kardec e aos parâmetros espíritas de abordagem da realidade espiritual; que admitisse seu melindre e seu interesse ferido diante da metodologia do Controle Universal do Ensino dos Espíritos (CUEE), elaborada por Allan Kardec e aplicada no processo de codificação espírita, como medida científico-filosófica que possibilitava justamente não a afirmação da verdade absoluta mas, sobretudo, a construção do saber espírita em bases razoáveis, com uma margem considerável e consistente de segurança e plausibilidade, nos limites das evidências possíveis, tanto em termos lógicos quanto factuais.

A única boa notícia que gostaria de receber é a de que o movimento espírita corretamente reconhecesse sua apaixonada preferência pelo mágico, pelo maravilhoso, pelo sobrenatural, pelo curandeirismo, pelas previsões, pelo ritual, pela cerimônia, pelas obrigações e manifestações religiosas exteriores, sim, que assumisse que prefere mesmo é misturar as coisas num imenso e obscuro “balaio de gatos”, conforme seus gostos e manias, para justificar suas fraquezas de caráter, e não para confrontá-las e modificá-las.

Por princípio, o espiritismo defende e respeita a liberdade de consciência, pensamento, opinião, crença, etc., de tudo e todos, contudo também prima pela coerência quanto ao estudo e à prática de seus princípios e fundamentos, sem transigir com quaisquer distorções ou atavismos, sustentando sua identidade conceitual, científica, filosófica, ética, moral e comportamental.

A única boa notícia que gostaria de receber é a de que o movimento espírita humildemente assumisse que precisa urgentemente voltar a Allan Kardec, voltar ao espiritismo, recuperando toda a grandeza ética e filosófica desta importante doutrina, e, neste sentido, voltaríamos todos a ser espíritas e, de fato, nos transformar e transformar o mundo para a melhor.
“Entre os próprios espíritas, há aqueles que, como eu disse, só veem do espiritismo a superfície, que não compreendem o seu fim essencial. Seja por incapacidade de julgamento, seja por orgulho, dele aceitam apenas o que os lisonjeia e recusam os que os humilham. Não é, pois, de admirar que alguns espíritas o aceitem de modo esdrúxulo” (Viagem Espírita em 1862 – Allan Kardec).

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