Joaquim Barbosa extrapola
O ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal, entrou para a história do Judiciário brasileiro pela porta da frente, pelos seus próprios méritos. Soube construir uma sólida formação acadêmica, com grande esforço; teve uma carreira jurídica de mérito e conduziu pessoalmente, sem favores, sua ascensão ao STF. É, sem dúvida, um homem honrado, muito embora não possa entrar na galeria dos grandes juristas brasileiros. Nem ele nem qualquer outro da composição mais recente do Tribunal. Tudo isto somado ao desassombro fazem Barbosa merecedor de todos os méritos e loas.
Mas, apesar de tantos pontos positivos, o ministro começa a correr o risco de sair pela porta lateral da História. Não por qualquer ato desabonador de sua conduta moral. O ministro tem uma convicção muito exacerbada e é intransigente além da conta na defesa de seus pontos de vista. O gosto pelo enfrentamento acaba levando-o a um comportamento grosseiro que mais parece a busca por uma afirmação pessoal do que a defesa de seus pontos de vista jurídicos. Isto não é bom para ele e, muito menos, para a instituição. Abre a chance aos derrotados, como está abrindo também o ministro Gilmar Mendes, ao trocar cartas com o senador Suplicy, para colocarem sob suspeita votos e decisões apontados como resultantes de passionalidade, não de fundamentação jurídica.
Barbosa, por sua inegável coragem de levar a julgamento, com mão de ferro, um processo complexo, e explosivo politicamente, como o do mensalão, precisa se preservar. Se não por sua própria imagem, pelo Judiciário brasileiro que, por sua condução firme, tanto do Supremo Tribunal Federal quanto do Conselho Nacional de Justiça, ganhou uma sobrevida. Um crédito de confiança da população. Joaquim Barbosa ganhou, incontestavelmente, uma mística de herói, de justiceiro. Isto também não é bom. Melhor que não se transforme em vilão, no chato contestador. O equilíbrio está no centro. Melhor então que ele seja apenas o Joaquim Barbosa, homem de valor e de conhecimento. Isto deve lhe bastar.