Barragens não se rompem, são rompidas


Por MARCOS DE OLIVEIRA GUERRA, COLABORADOR

22/11/2015 às 07h00

Muito se fala e discute, mas poucos sabem do que realmente estão falando. As barragens são construídas pelos homens com finalidades diversas, destacando as que preveem o uso múltiplo da água. Um tipo particular de barragem, que tem provocado dores de cabeça, é chamado de barragem de rejeitos, a qual pode ser construída com ou sem o material que será estocado como inservível. Nota-se que os rejeitos constituem assunto secundário dentro do negócio da mineração.

Os sismos são fenômenos dinâmicos, naturais ou induzidos e apresentam, historicamente, pequena significância no Brasil, onde só se registram pequenos tremores. A sua baixa incidência, além de outros fatores, acarretou negligência dos responsáveis pelo monitoramento da segurança de tais estruturas em relação aos riscos envolvidos, em especial nos casos de barragens de rejeitos.

Os estudos sobre a segurança de barragens, a partir de 1960, revelam que os problemas relacionados com a falta de estabilidade e deficiência de drenagem abrangeram mais de 85% dos casos estudados, enquanto os rompimentos, por funcionamento inadequado, levaram ao colapso apenas 9%. Os sismos, ou terremotos, respondem por apenas 5% dos casos relatados pela bibliografia internacional. Portanto, a ocorrência de rompimento de barragens provocado por sismos no Brasil deveria estar situada próximo de zero.

Essas estruturas, projetadas para uma vida útil de pelo menos 50 anos, após a metade de sua existência, devem ser reavaliadas, inclusive para aferição dos critérios de projeto. Entretanto, poucas são as experiências positivas no cumprimento desse cuidado. Empresas e órgãos fiscalizadores estão mais preocupados com a redução dos custos do que com monitoramento, auscultação e segurança efetiva das populações e de patrimônios envolvidos a jusante.

O recente caso do rompimento das barragens em Mariana, se avaliado corretamente, irá revelar deficiências comuns aos outros incidentes verificados recentemente. As mais relevantes constatações, no entanto, serão colocadas debaixo do tapete, para serem esquecidas pela população, já que os danos provocados a ela, ao meio ambiente e ao processo produtivo, certamente, serão muito maiores do que os eventuais lucros que essa mineração já trouxe para os seus proprietários.

Não havendo monitoramento adequado, também não será possível identificar as causas, não sendo nenhum absurdo esperar por diagnósticos como: a barragem se rompeu, provavelmente por causas naturais. E, não sabendo as causas, não se identificarão os responsáveis, como estamos acostumados a observar.

Não é hora de falar em multas ou acordos para diluir as responsabilidades e, sim, de fazer uma profunda reflexão sobre as práticas adotadas. Às inúmeras vítimas, o consolo de saber que a vida continua, e haverá sempre a solidariedade da população mobilizada e socorrista. Não se preocupem com indenizações, ou ressarcimentos, pois isso nunca virá, pelo menos na dimensão do dano provocado. As barragens não se rompem, elas são rompidas por ignorância, ganância, oportunismo, omissão, negligência e falta de monitoramento. A próxima barragem a se romper pode estar perto de você!

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