Igreja Católica e desarmamento
Mãe, mestra e perita em humanidade, a Igreja Católica adverte que a ideia segundo a qual teríamos mais segurança se armássemos a população é ilusória, perigosa e conduz ao agravamento da violência. No Brasil, em tempos recentes, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) assim se pronunciou: “A arma dá a falsa sensação de segurança e de proteção. Não podemos cair na ilusão de que, facilitando o acesso da população à posse de armas, combateremos a violência. A indústria das armas está a serviço de um vigoroso poder econômico que não pode ser alimentado à custa da vida das pessoas. Dizer não a esse poder econômico é dever ético dos responsáveis pela preservação do Estatuto do Desarmamento” (nota da CNBB sobre o momento nacional, em 21/04/2015).
O Catecismo da Igreja Católica afirma que “a corrida aos armamentos não garante a paz” e que “o superarmamento multiplica as razões de conflitos e aumenta o risco de esses conflitos se multiplicarem” (nº 2.315). Em diversas ocasiões, o magistério supremo da Igreja se pronunciou contra o uso irrestrito das armas. O memorável Papa São João Paulo II afirmou que “derrubar a tendência atual para a corrida aos armamentos compreende portanto uma luta paralela em duas frentes: por um lado, uma luta imediata e urgente dos governos para reduzir progressiva e equitativamente os armamentos; por outro lado, uma luta mais paciente, mas não menos necessária, no nível da consciência dos povos para atacar a causa ética da insegurança geradora de violência, quer dizer, as desigualdades materiais e espirituais do nosso mundo” (mensagem do Papa à II sessão da ONU para o desarmamento, em 7 de junho de 1982). “Todos os estados têm responsabilidades pela paz no mundo; e esta paz não poderá ser garantida enquanto a segurança baseada nas armas não for gradualmente substituída pela segurança baseada na solidariedade da família humana” (Papa São João Paulo II: mensagem para o XX Dia Mundial da Paz, em 1º de janeiro de 1987).
Ao condenar o uso indiscriminado das armas, a Igreja não quer com isso negar o inviolável direito de legítima defesa que deve ser exercido com a máxima prudência. A reação diante de um assalto, por exemplo, sempre foi condenada e desaconselhada pelas autoridades policiais, porque sabe-se que, em geral, uma reação gera mais riscos do que benefícios para a própria vítima e para terceiros. A polícia orienta a população a não reagir a qualquer tipo de crime, que pode colocar em risco a vida da vítima. “Nem sempre a pessoa visualiza todos os autores, pode ter algum comparsa. A pessoa não tem condição de reagir”, afirma um policial.
Diante de um clima de banalização da violência, penso que devemos evitar situações de risco, mas nunca acreditar que deveríamos ser como xerifes. Por fim, lembro aqui das seguintes palavras do Papa Paulo VI: “As armas, sobretudo as terríveis armas que a ciência moderna vos deu, antes mesmo de causarem vítimas e ruínas, engendram maus sonhos, alimentam maus sentimentos, criam pesadelos, desconfianças, sombrias resoluções. Exigem enormes despesas. Detêm os projetos de solidariedade e de útil trabalho. Falseiam a psicologia dos povos. Se vós quereis ser irmãos, deixai cair as armas das vossas mãos. Não se pode amar com armas ofensivas nas mãos” (discurso do Papa Paulo VI na sede da ONU, em 4 de outubro de 1965).