O que vamos deixar de presente para nossas crianças?


Por MATEUS NETTO COELHO, DIRETOR DA UNIÃO ESTADUAL DOS ESTUDANTES DE MINAS GERAIS

21/10/2015 às 07h00

Envolvidos pelas comemorações do mês das crianças, podemos perguntar: o que estamos construindo para as gerações que estão crescendo agora? Na educação, muito se progrediu, e temos muito a conquistar. Mas a expansão e o aumento de recursos ao longo dos anos são o bastante se não enfrentamos os problemas de currículo e das escolas arcaicas que não debatem gênero, sexualidade, direitos humanos e respeito às diferenças?

Foi notícia recente na cidade um caso de agressão a um jovem por sua orientação sexual. Infelizmente, este não é o primeiro e nem o último caso de homofobia no país em que mais se assassinam LGBTs no mundo e onde ocorre metade dos assassinatos de transexuais do planeta. Neste mesmo país, morre uma mulher a cada 90 minutos por crimes machistas.

Este é o país que construímos para as gerações futuras ao ignorarmos as estatísticas e retirarmos as questões de gênero e sexualidade dos Planos Municipais de Educação e de Juventude. Tais políticas contra o machismo, o racismo e a LGBTfobia enfrentam grande ofensiva das bancadas conservadoras. Em Juiz de Fora, não é diferente: vimos isso quando a Câmara Municipal veio modificar o Plano de Políticas para Mulheres.

Que fique claro: não se busca doutrinar crianças sobre seu gênero ou sexualidade. O fato é que barrar a discussão de gênero e sexualidade na escola é abrir espaço às práticas machistas. Meninas que sofrem violência diária poderiam encontrar na escola espaço para se debater o machismo e ensinar o respeito à liberdade das mulheres e à diversidade de gênero, assim como combater a LGBTfobia inclui uma educação e políticas inclusivas, que desconstruam padrões de normalidade e que garantam escolas e sociedade mais seguras e livres de preconceito.

Lutamos por uma educação libertária que combata o preconceito, a intolerância e o fundamentalismo religioso. Assim, nosso presente para as crianças será um mundo mais tolerante e humano, e festejar o Dia das Crianças será menos hipócrita que trocar presentes e fotos de perfil.

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