Separar é discriminar


Por CARLOS MAURÍCIO DE M. R. PEREZ Colaborador

21/08/2014 às 06h00

…é possível que a causa da dificuldade da pesquisa da verdade não esteja nas coisas, mas em nós. Aristóteles – Metafísica – livro segundo – tradução Giovanni Reale.

Ao deparar-me com esta frase, perdida entre tantas outras no livro em referência, percebo que o homem não está na direção que deveria estar na sua saga civilizatória. Aristóteles, um dos maiores filósofos que já tivemos, foi o criador de várias ciências, entre elas a taxonomia. Foi o primeiro, pelo menos no mundo ocidental, a fazer as classificações dos seres, mesmo que informalmente. Termos como invertebrados ou vertebrados advêm dele, e tal classificação foi feita somente no intuito de nos situar e nos fazer compreender melhor o universo em que vivemos.

Na nossa contemporaneidade, surgiram ciências que estudam o comportamento humano em função do meio, e tais processos interligam os indivíduos em grupos, ou em partes, seja no âmbito coletivo ou na sua singularidade. Essas ciências se perderam pelo caminho ao nos rotularem e nos separarem em grupos. Chegamos rapidamente à discriminação, e as intolerâncias entre nós têm crescido muito acima do limite tolerável. Esqueceram que o próprio indivíduo é quem faz a interface com o meio. O homem é a medida de todas as coisas, já dizia Protágoras há 2.500 anos.

De todas estas leis de cotas, a Lei 8.213/91 (Artigo 93) é, para mim, a mais difícil de contestar, então vamos a ela: está descrito na tal lei que uma empresa que tem em seu quadro funcional mais de cem funcionários é obrigada (obrigada!) a contratar 2% de funcionários portadores de falta de acessibilidade. Como o Estado tem a coragem de exigir uma coisa que o próprio não faz? Qual cidade brasileira é, na sua plenitude, adaptada a qualquer portador de falta de acessibilidade ou mesmo para um idoso? O Ministério do Trabalho deveria, primeiro, fiscalizar os 5.564 municípios brasileiros para certificar se os mesmos estão aptos para os necessitados. Percebe-se que o Estado gosta de transferir sempre a culpa, quando o mesmo é que deveria acolher essas vítimas, que, tenho certeza, não querem ser tratadas como tal. Outro exemplo é a Lei 10. 097: criaram tantos obstáculos para os menores trabalharem que hoje eles trabalham nas bocas de fumo e o resultado são estas barbáries cometidas pelos ditos menores de 18 anos.

Escrevo de cadeira, e bem que poderia ser na cadeira de rodas que era do meu pai. Passei grande parte de minha vida ouvindo pessoas falando que ele era aleijado, mas nem por isso nos abatíamos. Muito ao contrário, meu pai, que teve paralisia infantil no final da década de 1930, ainda na infância, foi um empresário que nos deixou sua empresa. O próprio inseriu-se no mercado e nunca precisou de leis de cotas ou da mão do Estado para ajudá-lo. Contudo, o que vemos hoje é justamente o inverso: o grupo discriminado é tratado como café com leite, igual nas antigas brincadeiras de criança.

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