Lutar ou se envergonhar?


Por EDVALDO TOMÉ SILVA Advogado

20/11/2013 às 07h00

O problema do racismo é antigo. A desigualdade social no Brasil, que tem origem nos primórdios da colonização, é produto de um processo de modernização e industrialização excludente e de base pobre. Desde a extinção da escravidão, os negros não são contemplados com políticas públicas de caráter compensatório. O que podemos observar é o legado de desassossego e pobreza. No entanto, com muita dignidade e honra, os afrodescendentes lutam para garantir um lugar ao sol, em uma sociedade que se diz democratizada, mas que adota uma discriminação sutil e velada.

A falta de humanidade e respeito é uma das causas que levam uma pessoa a discriminar outra, com injustiças e desmandos praticados por detentores, ou não, do poder econômico, gerando profundos constrangimentos. Podemos considerar que todos os homens e mulheres nascem livres e iguais em dignidade e direitos e são dotados de razão e consciência, devendo agir entre eles com espírito de fraternidade.

Infelizmente, o que se vê atualmente são pessoas que se valem de valentia, empáfia e arrogância, calcadas pela falsa investidura econômica culminada pela diametral diferença social, agredirem moralmente, com palavras de cunho ofensivo, a raça negra. Mesmo em um país onde há uma miscigenação de tantos outros povos, somos testemunhas de discriminações e tratamentos humilhantes com relação ao povo negro.

Quem pretender impor a pureza racial neste país não só comete o crime previsto na lei que pune a discriminação como principalmente atenta contra a natureza e a variedade do povo brasileiro. Martin Luther King foi feliz em dizer que a lei não pode fazer com que as pessoas amem umas às outras, mas pode fazer com que elas não as eliminem, mostrando-se, com isso, dependente do ordenamento jurídico para viver a vida em sua integralidade.

Nas palavras da doutora em filosofia Sueli Carneiro, racismo é apenas, e somente, um instrumento de promoção de privilégios e exclusões com base em supostas superioridade, inferioridade ou simples preferência racial; uma ideologia passível de ser encampada em qualquer tempo, lugar e conjuntura em que se pretenda estabelecer e legitimar poderes e privilégios de um grupo humano sobre o outro. Digno de destaque é que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que prioriza a igualdade entre as pessoas, não serve de freio a essa loucura marginal, que varre não só os países ditos de primeiro mundo mas, absurdamente, também o Brasil, habitado por um povo nascido da mestiçagem de povos distintos, de origem, religião e etnia diversas.

O combate ao racismo é uma luta constante daqueles que se sentem oprimidos em decorrência de sua cor, cabendo às leis o seu papel coercitivo de repressão a essa prática desumana. Nada mais é que uma luta do povo negro, para conseguir viver a vida em sua totalidade.

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