Briga na corte real!
Dizem que o homem é o rei da criação. Ao mesmo tempo, os homens elegeram o leão como o rei dos animais. E o confronto entre o rei da criação e o rei dos animais sempre esteve presente entre esse homem, chamado por Aristóteles de “animal político”, que usa da demagogia para “convencer” seus adversários, e esse fortíssimo animal, o leão, que jamais faz política no seu confronto com aqueles que tentam enfrentá-lo! E daí, José? Daí que, quando se enfrentam, o homem e o leão, muita coisa se aprende na arte do relacionamento entre animais humanos e outros animais.
Por que escrevo isso? Simplesmente pela coincidência – será mera coincidência? – entre acontecimentos recentes, um na África – terra do rei dos animais – e outro no Brasil, terra dos animais políticos – perdoem-me, reis dos animais, mas a culpa é de Aristóteles. O primeiro acontecimento se refere a um rico dentista americano, amante da caçada de leões, em plena terra deles, que “adquiriu”, por 50 mil dólares, o “direito” de caçar um leão famoso e executá-lo, guardando os troféus. Mas, de fato, era um leão que portava aparelhagem de pesquisa de uma famosa universidade, e, mesmo confessando que não sabia, ficou em palpos de aranha com a lei.
Ao contrário, em outro lance de “relacionamento” entre as duas “majestades” animais – perguntem a Aristóteles o que ele pensa dos leões -, um saudoso e famoso dono de circo italiano, Orlando Orfei, falecido há pouco, aos 95 anos, já “acusado” de portador do Mal de Alzheimer, em perfeita lucidez de sua grande sabedoria, quando lhe perguntaram o que ele faria se o circo não existisse, respondeu, sorridente e gozador: “Eu inventaria o circo”. Querem maior exemplo do valor intrínseco da criatividade?
Melhor ainda, quando lhe inquiriram se tivera alguns momentos perigosos no trato diuturno com tais ferozes criaturas, emocionou-nos com inesperada revelação, partida de um inteligente membro dos reis da criação, sobre um instintivo membro dos reis dos animais: “Devo confessar que, nas desavenças entre nós, na maioria das vezes, a culpa foi minha, ao lidar com seres que tanto adoro”.
Querem melhores depoimentos, de ponto e contraponto, do que a maneira de conviver, entre o homem e o leão, dois animais reais, um em cada reino, no que leram acima? E não acham que traz uma profunda e forte meditação – quem sabe, até dos leões? – sobre a verdadeira consciência social e existencial dessa chamada biodiversidade, de fato, o direito de lutar pela própria sobrevivência, naquilo que Nietzsche, sabiamente, já afirmava: “Não é só a razão mas também a nossa consciência que se submetem ao nosso instinto mais forte, ao tirano que habita em nós”.