Enfrentando a crise hídrica
O ano de 2014 vai ficar marcado como o ano da crise hídrica. Uma crise desencadeada por baixos índices pluviométricos que comprometeram os reservatórios de abastecimento urbano na região Sudeste, em especial, a Região Metropolitana de São Paulo e cidades do interior do mesmo estado. Em Minas Gerais, a situação também ficou crítica na bacia do Rio São Francisco, cuja nascente secou, e as vazões foram drasticamente reduzidas, comprometendo o abastecimento de cidades ribeirinhas, como Pirapora, e a barragem de Três Marias.
A princípio, parecia que a crise não atingiria Juiz de Fora devido à diversidade e à qualidade dos mananciais que abastecem a cidade. No entanto, com a estiagem prolongada, as represas de São Pedro e João Penido atingiram níveis críticos, comprometendo o abastecimento urbano. A vazão do Ribeirão do Espírito Santo também está baixa. Mas como dizem as autoridades, “agora temos Chapéu D’Uvas.”
Originalmente planejada para atuar como barragem de retenção (regular a vazão do Rio Paraibuna), Chapéu D’Uvas também irá abastecer a cidade de Juiz de Fora para evitar o colapso do sistema de abastecimento. Já passamos pela experiência do rodízio no abastecimento, e fica evidente que a cidade precisa de todos os mananciais funcionando, principalmente num momento em que a estiagem prolongada vem acompanhada de altas temperaturas, poeira, névoa seca, queimadas e baixa umidade relativa do ar. É uma combinação perigosa, pois, nessas condições, o consumo de água aumenta.
É possível evitar todos esses problemas? Acreditamos que não. Não é possível controlar fenômenos hidrometeorológicos extremos, pois ainda não estamos preparados para compreender suas causas. O que podemos fazer é aplicar instrumentos técnicos e legais para mitigar os efeitos adversos destes fenômenos, cujo agravamento se revela como consequência de uma crise de gestão. Por isso, precisamos consolidar o funcionamento da Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº 9.433/1997), instrumento indispensável para garantir o uso múltiplo, democrático e sustentável da água.
A crise da água em São Paulo foi agravada pela incompetência e falta de articulação entre os órgãos operadores e gestores que atuam nas bacias hidrográficas envolvidas, revelando despreparo no gerenciamento da crise. Para que a crise de escassez de água não se agrave em Juiz de Fora, precisamos de uma postura mais incisiva na gestão, que, a curto prazo, controle os desperdícios e garanta o acesso à água em todos os bairros, estimule a redução do consumo através de descontos na conta da água para afastar a necessidade de implantação do rodízio ou do racionamento, recupere os mananciais através de reflorestamento, controle os vazamentos na rede de abastecimento e mantenha os mananciais protegidos de ocupações irregulares. No entanto, o maior desafio não se restringe a como enfrentar, adequadamente, o problema no curto prazo, mas como construir soluções viáveis e duradouras capazes de garantir um futuro seguro e sustentável.