Ainda faz sentido ser social-democrata?


Por Marcus Pestana, economista e deputado federal

18/12/2018 às 07h00

O mundo vive uma profunda crise dos paradigmas ideológicos. A ideia de esquerda, direita e centro, herdada da Revolução Francesa, como referência para a dinâmica do sistema político, ficou em xeque. No século XX, a luta pela hegemonia política se deu entre liberalismo, social-democracia e comunismo.

O liberalismo nasceu nos países ocidentais a partir das revoluções Industrial, Francesa e Americana, calcado na teoria dos clássicos Adam Smith, Ricardo e Tocqueville. Mais tarde, Hayek e Friedman lançaram as bases do neoliberalismo. Advogavam o Estado mínimo, a primazia do mercado e da propriedade privada.

Diante das iniquidades sociais no “capitalismo selvagem”, veio à tona o movimento socialista. Já no século XIX, este campo político nasce marcado por dissensões. A vertente liderada por Marx e Engels, o anarquismo de Bakunin e o socialismo reformista de Lassale.

Levanto este histórico não por diletantismo, e sim porque o embate ideológico se radicalizou no mundo de Trump e de Bolsonaro.

O laboratório das ciências políticas e sociais é a vida. E ela problematizou todos os três paradigmas fundamentais. O liberalismo foi confrontado pelo aumento das desigualdades, como demonstrou Thomas Piketty, e pelas duas grandes crises mundiais de 1929 e 2008. A social-democracia mergulhou em profunda crise em função da insustentabilidade da expansão do Estado de Bem-Estar Social. E o comunismo encontrou seu fim na dissolução da URSS e na queda do Muro de Berlim. Por isso, é difícil compreender a saga anticomunista que alguns promovem no Brasil. Ou alguém enxerga sua presença ameaçadora nas decadentes experiências da Venezuela e de Cuba, no capitalismo de Estado da China ou na caricatura representada pela Coreia do Norte?

Hoje, relativizando ao máximo os conceitos, ser social-democrata no Brasil dos nossos dias é ser radicalmente democrático na política, fortemente liberalizante na economia, e jogar o foco no combate às desigualdades sociais, colocando o arsenal de políticas públicas em favor de um país mais equânime e justo.

Esse é o nosso desafio!

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