Novos ventos sopram o Vaticano
O mês de maio foi atípico no Vaticano. Isso porque, desde que tomou posse, em 7 de abril de 2013, Papa Francisco tem surpreendido a todos com suas atitudes, se mostrando, acima de tudo, um homem justo. Tanto é assim que no último dia 23, por desejo dele, um dos maiores ícones da Teologia da Libertação, o ex- arcebispo de San Salvador Óscar Romero – brutalmente assassinado há 35 anos -, foi beatificado. É a primeira vez na história da Igreja Católica que um representante dessa corrente, malvista e até mesmo perseguida, foi digno de um título dessa envergadura.
Prova de que novos ventos sopram o Vaticano, além de dom Óscar Romero, o Papa argentino autorizou recentemente a canonização do brasileiro dom Hélder Câmara, outro religioso que empunhou a bandeira da justiça social, razão pela qual, assim como seu par salvadorenho, foi taxado de comunista, entre outras pechas, e perseguido pelo regime ditatorial.
Mais um feito inédito de Papa Francisco: no último dia 12, a assembleia da Cúria contou com a presença do peruano Gustavo Gutiérrez, tido como “pai” da teologia da libertação e um dos tantos religiosos investigados na década de 1980 pela Congregação da Doutrina da Fé. Presidida à época pelo alemão Joseph Ratzinger, que mais tarde veio a se tornar o Papa Bento XVI, essa congregação foi a mesma que condenou o teólogo brasileiro Leonardo Boff ao “silêncio obsequioso”, sobretudo pelo conteúdo de seu livro “Igreja, carisma e poder”(primeira edição: Editora Vozes, 1981).
Para além de sinalizar o fim da “caça aos bruxos” pela Igreja Católica, esses gestos evidenciam a busca de uma reaproximação com a ala mais progressista da Igreja, bem como a tentativa de se repararem injustiças para com aqueles que, de uma forma ou de outra, foram calados pelo simples fato de se rebelarem contra a desigualdade social e a favor de seus próximos.