Uma nova sexta-feira 13


Por ANTONIO GASPARETTO JÚNIOR, HISTORIADOR JUIZ-FORANO RESIDENTE EM PARIS

17/11/2015 às 07h00- Atualizada 17/11/2015 às 08h24

O mito popular da sexta-feira 13 começou em função de um evento ocorrido na França no mês de outubro de 1307. Naquela ocasião, o rei francês Filipe IV, chamado de “O Belo”, ordenou a prisão de todos os membros da famosa ordem militar religiosa dos Templários. Interessado nos bens e nos segredos dos cavaleiros da cristandade, Filipe forjou acusações de heresia e declarou a ordem ilegal, prendendo seus membros simultaneamente por todo o território em uma ação estrategicamente coordenada. Os encarcerados foram torturados por anos até que seu último grão-mestre, Jacques de Molay, fosse levado à fogueira para execução pública, em 18 de março de 1314. Daí por diante, o “13”, que já era considerado um número místico para o paganismo, se uniu com a “sexta-feira”, uma combinação no calendário que não ocorre com muita frequência, dando origem a uma data popularmente dita de má sorte.

Há coincidências entre a “sexta-feira 13” de 1307 e a “sexta-feira 13” de 2015. Mais uma vez, a França foi o centro das atenções. Em uma ação estrategicamente muito bem planejada – não pelos méritos do ocorrido, mas pela proporção do ataque -, terroristas atacaram vários pontos de Paris, deixando a cidade em pânico e sob uma lua de sangue. O atentado triplo no Stade de France foi próximo da “realeza” do século XXI, onde o presidente francês assistia a um jogo de futebol de sua seleção nacional. E havia também o elemento religioso fanático, que decide quem deve viver e quem deve morrer e por quais razões. Em 2015, assim como em 1307, muitos inocentes perderam suas vidas sem saber a razão ou sem ser oferecida qualquer possibilidade de defesa.

A versão contemporânea da “sexta-feira 13” na França é, no entanto, muito pior. Não há interesses materiais sequer para o terrorismo. Trata-se de um ataque à humanidade e a valores básicos conquistados pelas sociedades. Desta vez, o lema “liberté, égalité et fraternité” é emanado pelo mundo, na esperança de que a luz da razão vença a escuridão da ignorância radical e fanática e de que a vida na Terra seja feita de “sábados 14” e de “domingos 15” ensolarados, de paz e de harmonia.

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.