Ética nos negócios


Por Hugo Borges, médico e presidente da Unimed Juiz de Fora

17/10/2018 às 07h00

Os sucessivos escândalos de corrupção envolvendo políticos e empresários – parceiros de ontem e cúmplices de hoje – têm exigido, até dos gestores mais incrédulos e ousados, austeridade nos regramentos éticos em relação aos seus colaboradores, a si mesmos, a demais lideranças da organização e a stakeholders.

No atual contexto, de consumidores cada vez mais informados, exigentes e ativos, qualidade, atendimento de excelência com foco no cliente e preços compatíveis não passam de condições mínimas para quem oferta produtos e serviços. Quem não se adapta às novas circunstâncias está irremediavelmente fora do mercado. Mas o que faz toda a diferença, nessa era pós-digital, são a relação de confiança entre as organizações e seus clientes, a credibilidade, a transparência e a postura ética nos negócios, pilares da reputação, o valor intangível de uma marca.

Embora a ética e a integridade empresarial sejam trilhas inafastáveis, até por imposição do mercado, muitas corporações ainda ignoram princípios essenciais, indispensáveis nas relações comerciais, e esquecem que a sociedade brasileira revogou, há tempos, a famigerada Lei de Gerson. Por miopia ou má fé, ainda buscam “levar vantagem”, ancorados na velha lógica de que os fins justificam os meios. Posturas anacrônicas assim, especialmente em momentos de crise econômico-financeira, estimulam transgressões e ignoram o “compliance” e as leis do país. A partir daí, instala-se o caos no ambiente interno da organização.

De onde desaparecem os propósitos, surgem confrontos de interesses entre sócios e gestores, despenca o conceito da instituição no mercado, e clientes e fornecedores se afastam. O resultado dessa violação de princípios e regras tem sido o desaparecimento de marcas consagradas no Brasil e no exterior.

Felizmente, embora ainda tenhamos muito a avançar, o Brasil de hoje é muito diferente daquele do final do século XX, pelo protagonismo da sociedade e pela valorização da ética e da reputação nas corporações. A julgar pela grande rejeição social da população em relação a comportamentos inadequados de pessoas ou organizações, aproxima-se o dia em que o brasileiro não mais irá, como afirmou o genial Rui Barbosa, “desanimar-se da virtude”, “rir-se da honra” ou mesmo “ter vergonha de ser honesto”.

Estou certo de que, com bons exemplos de conduta, valores e boas práticas de governança, não deixaremos “um mundo melhor para nossos filhos”, mas “filhos melhores para o planeta”. Esse deve ser o plano.

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