Educação e cidadania
Por Carlos Magno Adães de Araujo, Geógrafo e professor
A crise política que se instaurou no Brasil replica a mesma lógica que permeia a história do país, desde a Colônia, passando pelo Império e a República. Jogos de interesses privados com a finalidade de apropriação do patrimônio público não são novidade no país das maravilhas, ainda que falácias como a de que Deus é brasileiro e que vivemos em um país pacífico e isento de catástrofes naturais sejam invariavelmente reproduzidas.
No Brasil, a violência ceifa mais vidas que guerras formais mundo afora, o trânsito mata, e a dieta das classes populares, rica em sal e açúcar, é mais letal que a pólvora. Não bastasse esse cenário, o nível médio de instrução do brasileiro é medíocre – a despeito do aumento nos anos de escolaridade nos últimos tempos -, fato que facilita a ação de grupos minoritários detentores do capital intelectual e material, que manipulam facilmente as massas ignorantes.
Enquanto o país está em chamas, com acordos sendo diuturnamente firmados para a manutenção do status quo, preocupações com o resultado da última partida de futebol ou com o último capítulo da novela parecem ocupar mais o cérebro do populacho. A este, por sua vez, não devemos imputar a culpa por sua própria estupidez, uma vez que desconhece sua própria condição.
É nesse sentido que exemplos bem-sucedidos de investimentos em educação podem nos fazer repensar nossa realidade e nossas práticas.
Países tão distintos como a Coreia do Sul e a Finlândia, passando por Canadá e Alemanha, fizeram da educação uma prioridade irremediável. Obviamente com fins de aumentar a produtividade por meio de investimentos em ciência e tecnologia, essas ações também contribuíram para a formação de sujeitos críticos e reflexivos, que em um mundo liberal tentam conferir sentido à vida sem recorrer a contos de fadas de cunho teológico ou metafísico.
Assim, a esperança de que dias melhores virão sem uma ação pragmática transformadora irá apenas perpetuar nossa condição de país periférico em um planeta que, no século XXI, tem como a principal fonte de riqueza a produção de conhecimento. E essa ação passa necessariamente pela educação da sociedade, uma educação que proporcione conforto material e saúde e que fomente a germinação de uma cidadania plena, em que as diferenças sejam respeitadas e a corrupção seja extirpada.