Passeatas ou diálogo pela democracia
“A coragem é a primeira qualidade humana, pois garante todas as outras” – Aristóteles (384 a.C.- 322 a. C.)
Impressionante a maneira pela qual evoluíram as passeatas de protesto contra a corrupção e a inoperância econômica e financeira, com repercussões antissociais do Governo da presidente Dilma Rousseff. Tudo dentro das mais perfeitas normas democráticas, em que deve prevalecer o regime do diálogo, pacífico e criativo, entre os cidadãos e os governos, numa conversa de aprimoramento de ambos, em prol do crescimento da cidadania.
Tolos daqueles que pensam que violência rima com coragem. Ao contrário, pois, ao fugir do diálogo, o homem perde o tirocínio da razão, perde a consciência e age pelo instinto. Mas não pelo instinto nobre da sobrevivência, contudo, pelo instinto perverso do poder, da posse, enfim, de se tornar senhor daquilo que é, de fato, do direito de todos. Vemos hoje, cada vez mais, assoberbarem-se, em todos os países desse pequeno planeta terrestre, esses defeitos capitais desse aristotélico animal político chamado de homem, devido ao péssimo uso de seu raciocínio. Na maioria das vezes, usado mais para o mal do que para o bem.
Tudo isso faz-me lembrar, há muitos e muitos anos, quando o saudoso e famoso cantor e artista francês, Yves Montand, vindo ao Brasil, inquirido sobre sua filosofia política e cultural, declarou-se, incisivamente, ser apenas uma coisa: anti-intolerante.
Homem habituado ao choque de ideias, não fosse francês e humanista convicto, já tendo participado, ativamente, de vários movimentos reivindicatórios de direitos e dignidades humanas, tais palavras (dele partidas) fazem-nos, hoje, pensar a respeito de responsabilidades, deveres e, sobretudo, condutas ativistas, visando lutar pela aquisição sólida e decisiva de melhores alternativas para a condição humana.
Mas o que vemos hoje? Tudo ao contrário do que Montand concebera e nos tentara ensinar: judeus matando palestinos, palestinos matando judeus, enquanto islamitas vão se arregimentando em todo o mundo, enquanto os Estados Unidos e a União Europeia, cada vez mais, veem engrossarem em suas próprias terras contingentes cada vez maiores de islamitas a distância. E a Rússia e a China, repetindo Lênin no início de seu Governo, num falso capitalismo, hoje se tornam concorrentes de verdade ao próprio capitalismo que combatiam.
Deixando a complexa criatividade dos defeitos e retornando à calma e à simplicidade das virtudes humanas, cremos que a maior dessas é, justamente, a tolerância- atenta e corajosa – para não se contaminar e envolver-se por suas afinidades (aparentes) com a negligência e a omissão. Por sinal, achamos que Montand, ao se dizer anti-intolerante, fê-lo pelo receio de se omitir na própria tolerância…
O destino da humanidade, sem dúvida, baseia-se nesta balança de virtudes: de um lado, a consciência da força e inteligência, para fazer o mundo prosseguir em busca de um futuro de paz e de progresso para todos; de outro lado – do mesmo peso, para manter o fiel equilibrado -, a certeza da tolerância, da paciência e do diálogo racional e pragmático como vetores principais para se conseguir o ideal almejado. Espero que o diálogo iniciado pelas passeatas corajosas, mas pacíficas, da cidadania brasileira, do Oiapoque ao Chuí, leve, não com mais promessas, o Governo atual a iniciar imediatamente a necessária e inadiável reforma política, colocando, cada vez mais, o povo dentro do Governo e o Governo dentro do povo, naquilo que a real democracia se definirá sempre como Governo do povo, pelo povo e para o povo!