Depois as máscaras caem
Não sou o primeiro e nem o último a escrever sobre isso. A cada dia que passa, fica mais claro que a retirada de Dilma da Presidência não foi por pedaladas, por crimes ou para combater a corrupção. Foi uma manobra legislativa, com apoio de setores do Judiciário, feita para implementar uma agenda de subsunção ao mercado e às potências globais, retirando os direitos do povo. Foi, sim, um golpe parlamentar.
Vimos um grande exemplo disso na última semana, com o vazamento da primeira delação da Odebrecht. Com o PMDB no centro, Temer foi citado 43 vezes. Romero Jucá, líder do Governo no Senado, que disse que “Michel é Cunha”, também está lá. E Renan Calheiros, que protagonizou a cena nacional ao dobrar o STF, tem presença confirmada. Ao mesmo tempo, Dilma não foi delatada nenhuma vez.
E ouvimos panelas quando a delação foi divulgada nos jornais? Ouvimos parlamentares dizendo que Temer tem que perder o cargo, por qualquer motivo, que fosse o famigerado “conjunto da obra”? Jucá foi afastado da liderança, ou os ministros envolvidos foram demitidos? Nada disso.
A cada dia, percebemos que a corrupção não é nada para eles. Ela é banalizada, intrínseca, da ordem do dia. Preocupados com a economia? Muito menos. Continuamos em uma crise que se acentua a cada medida de austeridade anunciada. Nem a baixa popularidade de Dilma explica, pois Temer explodiu em rejeição, e não ouvimos panelas nos bairros nobres.
O real “conjunto da obra” que nos trouxe a esse ponto é a oposição aos direitos que vínhamos conquistando. Ele envolve políticas como o aumento real do salário mínimo, os direitos das domésticas, os programas de educação, de saúde, de habitação e tantos outros.
Tudo não passou de um golpe que trocou não só a pessoa que ocupa o Planalto mas, principalmente, um programa de governo que fora aprovado nas urnas por uma agenda de austeridade que nunca sequer chegou aos palanques eleitorais. E com isso, a cada dia, o silêncio ensurdecedor das panelas mostra as máscaras deles caindo, uma a uma, apodrecidas.