Quer meu voto? Fale de água


Por ZÉ MÁRCIO - ENGENHEIRO E VEREADOR DO PV

16/10/2014 às 06h00

Está com sede? Beba água. Machucou? Passe água. Sujou? Jogue água. Já parou para pensar como a água é a solução mais espontânea e imediata para diversas situações? A abundância desse bem natural – afinal, basta abrir a torneira – nos tornou acomodados e talvez até incrédulos de que algum dia pudéssemos sentir – de fato – a falta de água. E não é que isso aconteceu? O que eram previsões futuras, conjecturas para as próximas gerações, relatórios científicos, hoje está na nossa porta, ou melhor dizendo, na nossa torneira, no chuveiro. Varrendo calçadas com mangueiras, tomando banhos demorados, agredindo nossos mananciais por décadas, deixamos os livros que, desde a infância, nos ensinam sobre a importância do consumo consciente, para o aprendizado na prática.

Difícil falar de previsões realistas sem ser pessimista. A Agência Nacional de Água (ANA), por exemplo, já antecipou que, no próximo ano, metade dos municípios brasileiros deve sofrer o que aconteceu no Estado de São Paulo este ano, vítima do desabastecimento. Poderíamos pensar que Juiz de Fora estará nessa outra metade, já que, recentemente, inauguramos a adutora de Chapéu D’Uvas, que vai garantir o abastecimento pelos próximos 30 anos, adicionando 900 litros de água por segundo ao sistema do município. Relevante, sim. Porém, me sentiria seguro realmente se o manancial estivesse em nossa cidade, e não patrimônio dos municípios de Ewbank da Câmara, Santos Dumont e Antônio Carlos, que planejam a utilização turística e imobiliária do espaço.

E os outros mananciais? Uma volta ao entorno da Represa João Penido, responsável pelo abastecimento de 48% de Juiz de Fora, é o bastante para comprovar a necessidade de uma ação enérgica do Poder Público para frear tamanha devastação. Já o corajoso Ribeirão do Espírito Santo, que fornece água para aproximadamente 40% de Juiz de Fora, talvez seja hoje o mais vulnerável pela sua extensão e imensidão de agressões que sofre ao longo de seu leito.

O que intensifica nossa preocupação é saber que o problema está por todo lado. Não escapam, por exemplo, nossas redes de distribuição, que, com mais de 40 anos de intensa atividade, geram uma perda em torno de 27% do volume de água tratada distribuída, segundo a Cesama, quando o admissível seria até 15%.

Corrigir tantos problemas requer a união de esforços e investimentos de todas as esferas, municipal, estadual e federal. Porém, o tema, presente nos livros didáticos, não ocupou sequer uma linha dos programas de governo dos presidenciáveis nesse segundo turno. Talvez porque, nesse caso, a resposta mais espontânea e imediata para a pergunta “Quer meu voto?” não seja: Fale de água!

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