Entendedores de gente


Por BRUNO CARLOS MEDEIROS Colaborador

16/01/2015 às 07h00

Marcada pela congênita flexibilidade na definição de titulares para seus cargos, a administração pública propiciou, nas últimas semanas, o agravamento de uma prática cujo combate deveria formar um dos pilares da tão defendida reforma política prometida pela presidente Dilma. As embaraçosas incompatibilidades entre as aptidões de vários dos novos ministros e suas pastas incitam os questionamentos sobre quais destinatários de fato residem nos intentos das políticas de nossos gestores.

O âmago de todas as excrescências no encaixe das peças do quebra-cabeça ministerial instalou-se na pasta dos Esportes, com a nomeação do pastor e ex-parlamentar George Hilton, do PRB, que, durante os anos como congressista, nem mesmo apresentou projetos que beneficiassem a área da qual hoje é representante. Seu currículo, além disto, é vistoso em contradições, já que ostenta uma prisão após ser flagrado transportando R$ 600 mil em espécie, em um aeroporto. Ao contemporizar a incongruência de sua pouca – ou nula – intimidade com o tema, alegou “entender de gente”, listando a qualidade que, para ele, embora genérica, bastava para que o habilitasse ao cargo.

Em nosso estado, a secretaria de Esportes, em sintonia com a aliança do PT com o PRB, seguiu igual trajetória, com a nomeação do também pastor Carlos Henrique, o que obrigou o prefeito Bruno Siqueira, do PMDB, partido aliado ao PT, a fazer um rearranjo em seu secretariado, destinando a mesma pasta ao também pastor do PRB Carlos Bonifácio, substituto de Francisco Canalli, do PMDB, que, agora mais experiente em conduzir o que não lhe é familiar, assume a Agricultura.

Ainda que não existam mecanismos legais que impeçam a nomeação de quadros desqualificados para os ministérios e para as secretarias estaduais e municipais, é dispensável, neste caso, uma reforma política. O titular de um cargo eletivo que age norteado por princípios republicanos rejeita o fisiologismo dos partidos aliados e busca contemplar os interesses da sociedade, designando, para a composição de sua equipe, os nomes mais aptos a compô-la.

Com a manutenção da política sistemática de troca de gentilezas entre aliados, resta que nos consolemos apoiados na lógica do ministro do STF Marco Aurélio Mello, que, ao defender a candidatura da inexperiente filha ao cargo de desembargadora do TRF-RJ, afirmou que o tempo se encarrega de corrigir suas inabilidades. Torçamos, então, que sejam todos pelo menos entendedores de gente.

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