Cem mortes sem sentido


Por JORGE SANGLARD Jornalista e pesquisador

15/09/2013 às 07h00

A banalidade da violência urbana, o desrespeito à vida, a falta de princípios éticos e muito mais podem explicar o porquê de Juiz de Fora, faltando três meses e meio para o fim do ano, ter superado, no dia 13 de setembro, os 99 assassinatos ocorridos em todo o ano de 2012. Estas cem mortes violentas são sinais de alerta, que teimam em desafiar nossas autoridades a uma ação efetiva para dar um basta ao crescente número de mortes sem sentido. Juiz de Fora passou a vivenciar, a partir de 2012, uma escalada de criminalidade assustadora para os nossos padrões, já que a cidade convivia com padrões europeus de crimes violentos.

Nestes últimos dois anos, Juiz de Fora bateu seu próprio recorde trágico, e algo de concreto precisa ser feito de imediato. Por iniciativa da Câmara Municipal, junto com a OAB-JF, a PJF, a UFJF e o Instituto Vianna Júnior, em março deste ano, o Seminário sobre a violência urbana em Juiz de Fora debateu o que deveria ser feito e sugeriu ações para estancar o crescente número de assassinatos e para mapear o que estava provocando tantas mortes violentas. Pela primeira vez, as autoridades nos níveis municipal, estadual e federal se reuniram num evento público para fazer uma reflexão séria e objetiva sobre o que estaria fazendo da outrora segura e pacífica Juiz de Fora uma cidade com crescentes e assustadores níveis de violência.

O enfrentamento da situação de insegurança, que toda a população percebe, ainda é tímido, a despeito de medidas tomadas pelas polícias Militar e Civil para coibirem a criminalidade violenta. É notório o sucateamento da Polícia Civil na cidade e em Minas Gerais. O presidente da Subseção Juiz de Fora da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas Gerais, Denilson Closato, vem advertindo as autoridades que a situação da Polícia Civil em nossa região é insustentável. E o mesmo Denilson vem apontando para a importância da ampliação do aumento do efetivo da Polícia Militar na cidade.

Passos importantes foram levantados e apontados no seminário, como a criação e instalação do Plano Municipal de Enfrentamento da Violência pela Prefeitura e a articulação do Laboratório de Estudo da Violência, que deveria ser abrigado junto à Universidade Federal de Juiz de Fora. Os 19 vereadores aprovaram em plenário e encaminharam a solicitação de criação destes dois instrumentos de enfrentamento à violência ao prefeito e ao reitor da UFJF, e está agendada para o dia 18 de setembro, no auditório da OAB-JF, uma nova reunião entre as entidades que promoveram o seminário para traçar as metas de implantação do Plano Municipal de Enfrentamento da Violência. E o professor Paulo Fraga, diretor do Centro de Pesquisas Sociais da UFJF, já demonstrou o interesse do CPS em abrigar o Laboratório de Estudo da Violência, desde que os custos para a manutenção dos trabalhos sejam divididos entre as entidades articuladoras do projeto.

Todos os cidadãos de bem desejam que Juiz de Fora volte a ter paz e que a cidade reduza drasticamente os índices de criminalidade violenta. O desafio de tornar Juiz de Fora uma cidade mais segura é um compromisso de todos. Comunidade e autoridades precisam estar juntas neste momento para superar números tão trágicos. Juiz de Fora precisa reagir contra estas mortes sem sentido.

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