Globalização da indiferença
O Papa Francisco, numa análise da atualidade, constata e denuncia o que chama de Globalização da indiferença e conclama os cristãos a não ficarem indiferentes ao clamor para a paz e a justiça no mundo hoje. Na primeira mensagem para o Dia Mundial da Paz, o Papa enumera dramas do mundo diante dos quais não se pode ficar indiferente: o drama da droga, a devastação dos recursos naturais e a poluição, a tragédia da exploração do trabalho, o tráfico ilícito do dinheiro e a especulação financeira, a prostituição, o abominável tráfico dos seres humanos, os crimes e abusos contra menores, a escravidão ainda existente, a tragédia dos emigrantes e os conflitos armados.
Tomar consciência e viver a fraternidade, afirma o Papa, são os únicos caminhos para resolver ou, ao menos, aliviar esses dramas da humanidade. A fraternidade é uma dimensão essencial do homem que, por natureza, é ser de relação. Ter consciência viva desta dimensão leva-nos a ver e a tratar cada pessoa como irmão, irmã. Sem ela, torna-se impossível construir uma sociedade justa, uma paz firme e duradoura. A família é fonte de toda fraternidade, nela se aprende a viver fraternalmente. Os modernos meios de comunicação ajudam a tomar consciência da unidade e partilha de um destino comum entre as nações da Terra. Mas, na realidade, contribuem também para banalizar os dramas, criando uma globalização da indiferença que, lentamente, faz nos habituarmos ao sofrimento alheio, fechando-nos em nós mesmos.
Novas ideologias caracterizadas por generalizado individualismo, egocentrismo e consumismo materialista não ajudam a vivência da fraternidade; ao contrário, debilitam os laços sociais, alimentando uma mentalidade do descartável que induz ao desprezo e ao abandono dos mais fracos. As próprias éticas contemporâneas, visando apenas à fraternidade privada, se mostram incapazes de produzir autênticos vínculos de fraternidade universal.
Uma verdadeira fraternidade entre os homens supõe e exige uma paternidade transcendente. A partir do reconhecimento desta paternidade, consolida-se a fraternidade entre os homens, ou seja, aquele fazer-se próximo para cuidar do outro, afirma o Papa. A explosão da violência neste último ano em nossa cidade não pode nos deixar cair na globalização da indiferença, condenada pelo Papa. Já existem sinais de reações frente a esta situação dramática. A sociedade civil organizada, 18 entidades entre as quais a Cúria Metropolitana e o Centro de Defesa dos Direitos Humanos – CDDH, junto com o chefe do Executivo apresentaram ao governador documento pedindo medidas urgentes e efetivas para enfrentar essa onda de crimes. Redes sociais também preparam o 1° Ato contra a violência para o próximo dia 24. Participar destas iniciativas é nosso dever como cidadão e como cristão. Concluindo, a equipe Igreja em marcha convida seus leitores a meditar sobre a frase do Papa Francisco: Às vezes, na nossa vida, os óculos para ver Jesus são as lágrimas.