Paris, não seja Charlie, seja Paris!


Por CARLOS MAURÍCIO DE M. RAMOS PEREZ, COLABORADOR

14/01/2015 às 07h00

“Estes pequenos europeus que nos mostram uma face avarenta, se não têm mais força para sorrir, por que pretenderiam dar suas convulsões desesperadas como exemplos de superioridade?” Albert Camus em “O homem revoltado”, de 1951.

Em abril de 2014, escrevi que a Europa Latina padecia de um pai e, diante dos fatos que aconteceram na França, escreverei um pouco mais sobre o assunto. Volto à Revolução Francesa para seguir uma linha de pensamento. Saint-Just, um revolucionário francês em um inflamado e determinante discurso, vota para execução do Rei Luiz XVI, o mesmo diz: “a monarquia não é de modo algum um rei, ela é um crime”. Saint-Just acreditava na virtude como se fosse uma religião e, junto a Robespierre e Couthon, formava o Triunvirato do Terror.

Logo após a execução do rei, o Terror torna-se absoluto e governa tendo a virtude como método. Porém, não repararam que quem assassinou o rei foi a virtude, e, acima do rei, somente restava Deus. Começaram as críticas contra o Terror e formaram-se “facções”, sendo que o mesmo se posicionou duramente contra as “facções”do povo, que outrora amava e defendia, e bradou: “ou as virtudes ou o Terror!”. Quem mata em nome de algo também pode ser executado, e foi o que aconteceu com eles.

Os reis, há 250 anos, tinham “conversas” diretas com Deus através do Papa. Dar-se-á por analogia que a Revolução Francesa cometeu um parricídio e consequentemente um deicídio, e tal fato espalhou-se por toda a Europa. Nasce nesta mesma época, na Alemanha, o pensamento de Hegel, tendo como base a Revolução Francesa. Tal pensamento permeou a Alemanha nazista, a Itália fascista e a Rússia comunista.

O homem passou a ser um mero sinal de adição ou de subtração. Tal pensamento é corroborado por Marx e passa a ser uma religião sem Deus, em que o Deus é o homem. No calor dos atentados, pensei que o presidente da França fosse falar que os terroristas islâmicos são culpa do sistema. O presidente dos EUA e alguns analistas de TV falam em islamofobia, talvez os mesmos não saibam a quantidade de milhares de cristãos são executados por ano!

A Europa Latina ainda está nas trevas à procura da cidade iluminada… Esqueceram-se da luz solar mediterrânea. Nas palavras de Albert Camus: “os homens europeus preferiram trocar a humanidade pela ilusão do poder, a miséria dos subúrbios por uma cidade fulgurante. Recusam a morte solitária e chamam de imortalidade uma prodigiosa agonia coletiva. Nesta Europa, homens simples estão cansados de trabalhar e morrer sem Deus”.

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