Energia elétrica, crenças e mitos
Por 30 anos, fui professor da disciplina de produção de energia elétrica de uma instituição federal de educação profissional. Sobre energia elétrica, existem muitos mitos e conceitos populares. Por exemplo: nunca existiu lâmpadas de cem velas, e sim cem watts. Nas tomadas das casas, a tensão não é de 110, e sim 127 volts e elas não possuem positivo ou negativo, e sim fase e neutro. Pode ser que o chuveiro, ar-condicionado e outros aparelhos que ficam ligados o tempo todo não sejam os grandes vilões da conta de luz nas residências.
A bem da verdade, nenhum aparelho tem o prodigioso dom de consumir energia elétrica, pois isto seria um fenomenal milagre, um atentado à lei universal de conservação da energia, aquela que nunca se perde e sempre se transforma. Pois, então, é isto, os eletrodomésticos simplesmente mudam a forma da energia, produzindo os resultados que os verdadeiros consumidores deles esperam. Uma lâmpada transforma a energia elétrica em luz e calor. Um liquidificador muda eletricidade para energia mecânica, fazendo seu eixo girar.
Entretanto, nenhum destes aparelhos possui vontade própria, nem mesmos os computadores, notebooks e tablets. Alguém tem que acionar um botão e aquele que o faz, no dito popular, é o verdadeiro consumidor. Acontece que, nas últimas décadas, a população brasileira aumentou de forma exponencial, e suas demandas de energia evoluíram para muito mais que antes. A disponibilidade de energia elétrica nacional, gerada 83% a partir de usinas hidrelétricas, não seguiu o mesmo ritmo do consumo e, para piorar, água que é bom nem para beber tem.
Mas não tem problema. Segundo João Ubaldo Ribeiro, Cacá Diegues, Fagundes e ministros, Deus é brasileiro e, assim, graças à providência divina, não teremos que enfrentar prováveis racionamentos brevemente. Se, no período das chuvas, as águas não vieram, o jeitinho então é acreditar que elas possam vir no período da seca. Milagres existem. Afinal, se somos compatriotas do divino, crentes e de profissão “esperança”, devemos também estar convencidos de que não ficaremos na escuridão. Hilário não é? Conta outra, zé mané.