As rochas e os seus riscos
“Lembro outros locais de semelhante periculosidade geológica, como o Parque do Ibitipoca, a antiga pedreira próxima à casa de shows La Rocca e o Morro do Cristo (…)”
As impressionantes cenas do tombamento de rochas no cânion de Capitólio, em Minas Gerais, nos alertam sobre o domínio e o poder das rochas em nosso planeta. Principais componentes da estrutura da Terra, são as fornecedoras principais de matéria-prima para a construção de nossa civilização. Entretanto devemos lembrar que elas possuem uma dinâmica própria, responsável pela esculturação do nosso mundo, o que nos traz vários perigos e também riscos. São coisas distintas, pois perigo representa uma condição física, química ou biológica com potencial para causar danos ao ambiente ou às pessoas; já o risco é uma possibilidade de ocorrência de algum evento indesejável (a qual pode ser avaliada!).
Vários são os tipos de rochas conhecidas, e na região de Capitólio o substrato rochoso é diverso, formado tanto por rochas sedimentares como por metamórficas, as quais passaram por episódios de sedimentação, soerguimento e vários graus de compactação, que ocasionaram quebras ou fraturamentos nessas rochas. Ao observarmos fotos aéreas do local, é visível que essas fraturas mostram um padrão predominantemente vertical, o qual desenha uma rede de planos perigosamente orientados a 90 graus em relação à superfície, a qual, na área, é a água da represa de Furnas.
Essa combinação entre paredões de rochas e água gerou paisagens de extrema beleza cênica, os cânions, os quais são visitados por turistas que se aventuram em barcos nas proximidades dos paredões rochosos. Será que esses turistas que foram atingidos estavam conscientes dos riscos que corriam, ou seja, da possibilidade de rompimento das estruturas rochosas instáveis? Perguntando de outra maneira: existe mapeamento de risco na área? E esse mapa é divulgado para os incautos turistas?
Já tenho lido que a chuva é a responsável pelo evento. Alto lá! O perigo já existia. A chuva pode ter atuado como um gatilho disparador, pois a penetração da água nos planos de fratura pode acelerar o processo. Assim, as visitas ao local deveriam ter sido suspensas nos períodos chuvosos, pois as autoridades e os responsáveis pelo sítio turístico deveriam estar conscientes dessas questões ambientais.
Lembro outros locais de semelhante periculosidade geológica, como o Parque do Ibitipoca, a antiga pedreira próxima à casa de shows La Rocca e o Morro do Cristo, locais com rochas extremamente fraturadas e falhadas, onde têm ocorrido movimentos de blocos rochosos. Tenho mapeado os níveis de risco existentes nesses sítios, mas não observo ações efetivas do Poder Público para aumentar a segurança das comunidades envolvidas. Estamos esperando um evento avassalador como o de Capitólio para se tomar alguma decisão preventiva?
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