Individualismo e bem comum

“Autonomia é a capacidade humana de sua vontade livre, enquanto liberdade é a possibilidade de agir conforme essa vontade”


Por Tribuna

11/08/2017 às 07h00- Atualizada 11/08/2017 às 08h00

Por Eduardo Birman, Médico psiquiatra e professor

As concepções sobre “o que é o homem?”, ao longo da história, serviram como base a diversas ciências. Se na concepção aristotélica o ser humano era um “animal” político-social, uma característica essencialmente humana, que buscava o “viver bem”, isso já o situava não só apenas na necessidade de convivência com os outros para existir, mas para ser feliz. Quando Descartes definiu o homem, antes de tudo, como um ser pensante, não necessariamente eliminou a ideia aristotélica, já que pensamento e sociabilidade podem e devem permanecer unidos na busca desse viver bem, de ser feliz.

É a noção de autonomia moral que caracteriza o homem como sujeito ao mesmo tempo individual e social. No entanto, autonomia não deve ser confundida com liberdade. Autonomia é a capacidade humana de sua vontade livre, enquanto liberdade é a possibilidade de agir conforme essa vontade. A liberdade individual, podendo ser entendida como autodeterminação pessoal, não apresenta impedimentos. Já quando socialmente surgem limitações, é a autodeterminação coletiva que entra em cena. Parece-nos que, em nossa sociedade contemporânea, a liberdade individual (confundida com individualismo) é considerada o “bem essencial” e, por isso mesmo, a segunda (liberdade coletiva) deve ser garantida pelo Direito.

Em tempos de individualismo, de negação das esferas públicas e do bem comum, os novos movimentos sociais apresentam-se como uma possibilidade importante na busca de uma reconstrução da esfera comunitária. Ao tornarmos as questões particulares em questões públicas e ao associarmos tais temas com a tradicional luta pelos direitos sociais, esses movimentos contribuem para tornar estas questões transparentes a toda a sociedade, construindo um novo espaço comum, onde não há nada assegurado em termos institucionais.

É, portanto, necessário mantermos um processo contínuo de diálogo e busca de consensos, conscientes de que os riscos de uma individualização autocentrada e descomprometida com o outro fazem aparecer, conforme afirma o filósofo Charles Taylor, “o lado sombrio do individualismo que é o centrar-se em si mesmo, que tanto nivela quanto restringe nossa vida, tornando-a mais pobre em significado e menos preocupada com os outros ou com a sociedade”.

O que restar no vazio da ausência de um efetivo esforço dialógico-comunitário é a padronização materialista de “quanto custa” tudo e todos, tendo como consequência social a exclusão e a violência.

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