Violência simbólica
No próximo dia 18, às 15h, na Câmara Municipal de Juiz de Fora, haverá uma audiência pública para tratar demandas específicas do Bairro Dom Bosco e região, especificamente sobre a Curva do Lacet e a construção de uma Uaps. Uma das áreas de crescimento, sobretudo empresarial, é a Zona Oeste de Juiz de Fora, onde se encontram os bairros Dom Bosco, Cascatinha e Teixeiras. O conjunto de empreendimentos, como, por exemplo, condomínios de luxo, shopping, hospital privado, hotel, faculdade e outras instalações, mostra a reprodução da classe média tradicional e da elite em seus aspectos econômicos e culturais.
Do outro lado, os moradores do Bairro Dom Bosco, em sua maioria afrodescendentes e pertencentes à classe popular, sofrem com prestações de serviços públicos precarizadas, principalmente na parte alta do bairro, conhecida como chapadão: não há transporte público, não há captação de águas pluviais, não há coleta de lixo e tantos outros não há. Além dessa realidade material, há um processo de violência simbólica, estruturada em processos de socialização reconhecidos como legítimos pela classe média tradicional e pela elite e imposta à classe popular como natural, no que se refere a práticas culturais.
A forma legítima de entretenimento imposta é aquela encontrada no shopping, espaço principal das relações sociais mediadas pelo mercado, em detrimento do antigo campo de futebol localizado em frente ao shopping, que era uma das poucas formas de lazer dos moradores daquela região. Além disso, temos o tanque comunitário (bem imaterial, por seu caráter socializador e histórico), que era usado por lavadeiras e moradores do Dom Bosco. Atualmente, ele encontra-se com mato alto, sujo e sem manutenção; isto é, ficou relegado como uma prática cultural ilegítima de ser praticada.
Diante da higienização da pobreza e da violência simbólica na região supracitada, é preciso resistir a esse processo, cobrando dos poderes Executivo e Legislativo, e também do Ministério Público, a defesa de uma área de lazer que atenda às necessidades da população e a construção da Uaps 1, ambas dispostas em lei (11.235/2006 e 10.855/2005), as quais estão em espera de concretização há quase dez anos.