Violência sem fim
O aumento da violência em Juiz de Fora e o crescente número de assassinatos na cidade, a partir de 2010, vêm sendo acompanhados por Leandro Piquet Carneiro, pesquisador do Instituto de Relações Internacionais e do Núcleo de Pesquisas de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP). Segundo o pesquisador, se nada for feito pelo Estado e pela sociedade, a meta para 2015 será fixada pela “mão invisível” do crime, por centenas de traficantes de drogas ou por jovens em busca de vingança, uma vez que ocorreram 141 assassinatos em Juiz de Fora entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2014. Para se ter uma ideia do que representa esse crescimento, apenas nos três primeiros meses de 2014, já tinham ocorrido mais crimes violentos do que em todo o ano de 2007.
E o pior, aponta o estudioso: em 2013, ocorreram 139 homicídios na cidade, o que equivale a uma taxa de 28,4 homicídios por cem mil habitantes, situando Juiz de Fora acima da média nacional, que, em 2012, foi de 20,4. Dez anos antes, a taxa de homicídios na cidade era de 8,4 por cem mil habitantes. Enquanto o país melhorou entre 2003 e 2012, graças à diminuição dos homicídios em São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco, Juiz de Fora deixou o grupo das cidades menos violentas do país e poderá, em breve, estar no noticiário nacional como mais um caso de fracasso na segurança pública.
Os números crescentes de homicídios em Juiz de Fora desafiam os gestores públicos e a sociedade. Pouco foi feito de concreto para enfrentar essa triste realidade, enfatiza Leandro Piquet Carneiro, e 2014 terminou ainda pior do que 2013 – o que equivaleria a um novo aumento na taxa de homicídios por cem mil habitantes.
A OAB Subseção Juiz de Fora, a Comissão de Segurança da Câmara Municipal, a UFJF e a Prefeitura de Juiz de Fora criaram o Laboratório de Estudos da Violência, abrigado junto ao Centro de Pesquisas Sociais (CPS) da UFJF, visando pesquisar, debater e enfrentar a realidade desse aumento da violência. A pergunta feita em outras cidades que reduziram a criminalidade violenta precisa ser feita em Juiz de Fora ao Poder Público e às organizações da sociedade civil que se mobilizaram diante do problema: qual é a meta de homicídios para 2015?
Sem uma resposta concreta para essa pergunta, a cidade conviverá com a onda crescente de mortes violentas e com a sensação de impunidade, que realimenta essa verdadeira onda de acertos de contas entre a criminalidade e, principalmente, entre jovens que, armados, resolvem seus problemas à bala.
O alerta do pesquisador da USP precisa ser encarado de frente se Juiz de Fora quer realmente enfrentar o desafio de reduzir o número crescente de homicídios. A hora de buscar alternativas é agora, quando o novo governador de Minas, Fernando Pimentel, já anunciou em entrevista que uma das suas prioridades é enfrentar a violência no estado.