Poses e máscaras


Por BRUNO CARLOS MEDEIROS - COLABORADOR

10/09/2014 às 06h00

Eleições são como certos mistérios de infância, desses cujos anos passados não desvendam – apenas ajudam a torná-los mais conflituosos. Deveras, ainda me é estranha a ideia de que o futuro de toda uma sociedade esteja vinculado à escolha de seres arquitetados por estratégias dos chamados marqueteiros, servindo-nos de base méritos e feitos inflados e tropeços relativizados, em programas cada vez mais cinematográficos, emotivos e menos honestos.

Acompanho as discussões políticas desde sempre, porém confesso minha insatisfação. A começar pelo bombardeio de generalidades que recheiam os discursos dos postulantes, já que os onipresentes saúde, emprego e educação dependem de um sem números de variáveis, quase nunca explicitadas de maneira satisfatória. Os recentes debates e entrevistas reforçam nosso descontentamento: candidatos – e entrevistadores – que se digladiam por irrelevâncias prestam um desserviço à democracia.

Discussões econômicas, embora de mérito indiscutível, são demasiadamente complexas para o tempo que lhes é disponibilizado e intangível para a grande massa dos espectadores, que espera respostas para questionamentos palpáveis. O debate político segue frívolo, insosso e pouco contribui para a decisão de nosso voto.

Façamos, portanto, justiça ao papel provocativo de alguns dos “nanicos”, candidatos que, graças às exigências menos criteriosas de certas redes de TV, puderam participar dos primeiros debates à Presidência. Alguns dos temas espinhosos foram abordados por eles. E, na condição de cidadão, mais do que a inegável diversão de vê-los se engalfinhando por picuinhas partidárias, vejo como imprescindível que saibamos como se portam diante de temas delicados como o direito ao aborto e à eutanásia, legalização das drogas, pesquisas com células-tronco, criminalização da homofobia, adoção por casais do mesmo sexo, redução da maioridade penal e tantos outros que fatalmente virão a desagradar um grande contingente do eleitorado, mas que impõem que se dispam das amarras dos marqueteiros e de seus estratagemas, apresentando-nos ao ser humano por debaixo do véu da política.

Aparições de políticos vão consagrando-se como “uma sucessão de poses e de máscaras”, como bem definido por Nelson Rodrigues. E o nosso futuro merece mais do que um superficial jogo apoiado na lógica do tudo ou nada na conquista de cargos tão essenciais.

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