Descaso


Por ANTONIO FONSECA LUCINDA, MÉDICO CIRURGIÃO PLÁSTICO

10/05/2015 às 06h00

Sou médico, cirurgião plástico e era responsável pelo serviço de Urgências em Cirurgia Plástica e Queimaduras do Hospital e Maternidade Therezinha de Jesus. Pela primeira vez, eu me entusiasmei com um projeto na área do serviço público, com o acordo firmado entre este hospital, os governos municipal, estadual, federal e um pool de municípios circunvizinhos. Cheguei a me emocionar ao ler nas paredes da instituição, escrita em letras garrafais, a inscrição: 100% SUS. Emoção calcada na certeza de que a seriedade dos dirigentes do hospital tornaria realidade um sonho acalentado por três décadas, ou seja, poder oferecer à população um tratamento com padrão de excelência e com a dignidade que nossos cidadãos merecem. Por um tempo assim se deu, e pude trabalhar com prazer, tendo às mãos todo o material necessário, com equipes multidisciplinares desenvolvendo uma atividade profícua.

Entretanto, tão logo se apagaram os holofotes da mídia, e a exposição advinda da importância do projeto rendeu os dividendos eleitoreiros esperados, voltou-se à mesmice da administração pública desse país: a falta de seriedade, o descumprimento dos acordos firmados, a ausência de repasse das verbas prometidas, inviabilizando o projeto. É preciso que a população tome conhecimento do ocorrido e tenha consciência da irreparável perda ocasionada pela interrupção do atendimento. É necessário que todos saibam da maldosa morosidade do Governo federal em regulamentar o acreditamento dos leitos disponíveis para atendimentos de alta complexidade.

Falo em meu próprio nome e não me manifesto por interesses pecuniários. Faço-o, sim, em nome da revolta que me acomete ao ver uma iniciativa tão benéfica esvair-se na enxurrada da mediocridade administrativa. Chega de desrespeito, de descaso e de manipulação da opinião pública. Há que se respeitarem os preceitos democráticos, mas não podemos fechar os olhos aos desmandos. É grande a minha decepção. Estou indignado por ver que, no momento em que eu poderia contribuir efetivamente para com a melhora do atendimento à população, esta oportunidade seja cerceada por entraves burocráticos, falta de vontade política e um canhestro maquiavelismo partidário. Que lástima!

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